Na primeira vez em que ouvi essa música (ver no post abaixo) e prestei o mínimo de atenção a sua letra, logo me encantei não só pela hábil maneira com que nela a autora brinca com as palavras, ou pelo tom sereno da voz de Regina Spektor, mas pela assertividade com que trabalha a idéia de “rir de Deus”.
Nas estrofes da música, o “rir de Deus” se refere a variadas situações crônicas da vida, como se dissesse: bem, se é que tem alguém rindo de Deus, certamente não é em um hospital ou em meio a uma guerra, etc. Ninguém (ou quase ninguém) é capaz de rir de Deus nessas horas, não é mesmo? Pelo contrário, é precisamente nesses momentos que mais lembramos que Deus existe – mesmo que tenhamos passado a maior parte da vida negando ou ignorando sua existência. Como diria C. S. Lewis, para muitos, Deus é como um pára-quedas, do qual só lembramos quando estamos em queda livre.
Ao mesmo tempo, na segunda parte do refrão a autora ironiza mais ainda dizendo que Deus pode ser engraçado, hilário até. É claro que se trata aqui de uma idéia de Deus, bastante popular, aliás, de um Deus-joguete dos desejos humanos, que se submete a um relacionamento de barganhas e que está pronto para dar presentes de acordo com o mérito de quem ora certo ou faz as coisas (religiosamente) direitinho. Esse é o tipo de idéia em relação a qual a gente não sabe bem se ri ou se chora. Só não dá pra ficar indiferente.
Paulo disse que não era pra ninguém se enganar porque de Deus não se zomba (Gl 6.7), ou seja, não se faz de Deus um tolo. O apóstolo não está sendo imperativo aqui; não está dizendo “não zombem de Deus”, e sim, “por mais que se tente, não é possível zombar de Deus”, Ele não é zombável. Em outras palavras, Deus não deixa de ser Deus porque deixamos de acreditar nele ou de honrá-lo, e nem é mais Deus porque o honramos, louvamos, glorificamos; Ele não se torna mais Santo cada vez que cantamos “Tu és Santo”. Quando dizemos e fazemos cada uma dessas coisas, no fundo, não é por causa de Deus, e sim por causa de nós mesmos, da necessidade que temos Dele, da gratidão a Ele pelo amor que Dele recebemos, e assim por diante. Não amo o amor pelo amor em si, mas, primeiro, porque fui e porque sou amado.
Não estamos sendo prepotentes demais quando pensamos que Deus precisa de nossos mimos para ser mais Deus, mais Santo, mais Glorioso? Ele já É tudo isso. E o que É não deixará de ser porque alguém disse de menos, e nem será mais do que É porque outro fez de mais. À prepotência humana (minha e sua) de achar que o mundo (e Deus) é seu umbigo é que se destina a bem-humorada ironia da música: no fundo ninguém está rindo de Deus, todos estamos rindo com Ele.
Jonathan