sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Amnésia ideológica no PT

Escrevi o texto abaixo há 6 anos. Relendo-o, percebi o quanto ele continua atual, guardadas as devidas proporções. Ele não demoniza o PT, como alguns têm feito atualmente, porque subentende que qualquer partido tem seus altos e baixos (uns mais baixos que altos, é verdade). Mas se trata de um desabafo de alguém que, um dia, acreditou na luta histórica do partido, e viu essa mesma luta se perder na amnésia ideológica auto-induzida vivida por muitos de seus membros na última década. Assim, exponho-o aqui sem nenhum receio, pois sei que, de lá para cá, a coisa só piorou. O diagnóstico (e o prognóstico), portanto, poderia ser muito pior que o aqui exposto. Segue...
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Diante dos últimos acontecimentos políticos em Brasília, e dos desdobramentos nas demais instâncias do país, vislumbramos uma das agitações mais ambíguas da história política brasileira. O maior paradoxo, a meu ver, está no fenômeno “auto-induzido” de debilitamento do Partido dos Trabalhadores, que outrora fora o maior partido de esquerda da América Latina, mas que atualmente, segundo a senadora, ex-petista, Heloísa Helena, não passa de “uma ferramenta política da propaganda triunfalista do neoliberalismo”.

As cúpulas diretivas do PT hoje são compostas por ditos ex-revolucionários de esquerda, que com uma avidez ingênua ou programática (quem sabe?), lambuzam-se e abusam do poder, de corpo e alma, abraçam a vaidade de seus interesses particulares, sobrepujam os adversários que cruzam seu caminho (eliminando ou anulando os “de dentro”, cooptando e contemplando os “de fora” do partido), e cospem nos direitos estabelecidos na constituição democrática da república, como tantos outros fizeram na história. Assim, a antiga “virgem imaculada”, padroeira defensora da ética e dos direitos dos trabalhadores, abandona sua beatitude para aos poucos se tornar dona de uma grande e rentável máquina de prostituição.

O PT protagoniza de forma patética os antagonismos do poder capitalista combatidos fervorosamente no passado por seus mais ilustres militantes (hoje “ilustres canalhas”, como o ex-ministro José Dirceu) e por tantos outros anônimos que se dispersaram na “massa” dos milhões que acreditaram em Lula – e que continuam acreditando nele, agora através de Dilma (sic) – dividindo-se entre os arregimentados e amordaçados pela “partilha do bolo” do poder, e as minorias dissidentes do partido, que persistem na mobilização contra as ingerências governistas, lutando para preservar as bandeiras históricas idealizadas no projeto de uma esquerda socialista e democrática, que vem sendo edificado há mais de duas décadas.

Hoje eles sonham e caminham sós, enfrentando o descrédito de suas utopias e vendo o desinteresse geral pela política crescer, posto que o realismo tem vencido a ludibriada “esperança”. Têm de encarar ainda a amnésia política e ideológica da base governante de seu partido, cuja práxis faz valer a frase profética dita por Heloísa Helena há quase uma década, antes de ser escorraçada pelos mesmos “companheiros” com os quais lutou pela construção desse partido. Ela disse, em matéria publicada na Veja on-line (29/01/2003), que “partidos nascem e morrem. Podem continuar vivos do ponto de vista legal, mas estar sepultados em sua razão de existir”.

Jonathan

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