terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Ano novo, Vida nova? (II)

1.
Vida nova? Bem, a vida segue, e ela não se renova apenas com votos e nem com a passagem de ano – que pode ser vista como simples mudança no calendário – porém, se renova à medida que a mente e o espírito se renovam. E como se renovam? Se, e somente se, compreendemos que “viver em novidade de vida” conforme o Evangelho é uma proposta muito mais abrangente e não cabe na agenda triunfalista dos fins de ano e nem pode ser comercializada. Paulo, o apóstolo, diz: “Assim também andemos nós em novidade de vida”.
2.
O primeiro passo para isso já foi dado por Cristo na cruz, sepultando consigo nosso estado de condenação e culpa pela escravidão do pecado; o segundo quem dá somos nós, na energia e força do Espírito, quando sepultamos aquele velho ser imerso em pecado e ressuscitamos para uma nova vida em Cristo.
3.
Vida que se revigora na renovação diária de nosso compromisso com Ele, na dependência de seu Espírito. Nossos planos, votos, felicitações triunfais de nada servem se estiverem fora desse propósito. Nada de “novo”, se essa novidade não partir de dentro pra fora, na metanóia diária que deve se impor como confrontação aos paradigmas desse século: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2). Em outras palavras, não se trata de uma vontade que se revela magicamente, mas pela vivência e ação: renova-ação, inconforma-ação e obediência aos valores revelados no Evangelho. E nisso não tem nada de “Abracadabra”.
4.
Novo ano, vida nova? Nem sempre. Nada pode ser feito novo se não for entregue em “mãos maiores”, aquelas que possuem a primeira e a última palavra: “Haja luz” e “Eis que faço novas todas as coisas”. Portanto, para esse ano que já nasceu, prefiro fazer um voto-oração mais bíblico e realista: que a graça nos conduza para uma vida nova em Deus, conforme Deus e para Deus!

Grande beijo e feliz 2009!
Jonathan
(Foto: Rio Sena, Paris)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Ano novo, Vida nova? (I)

É muito comum nas passagens de ano ver as pessoas fazendo votos, promessas e desejos para o ano que vem. E nesse não foi diferente. Feliz 2009? Nada de novo debaixo do céu. Sempre ouvimos os mesmos votos de felicidade, saúde, paz, alegria, prosperidade, sorte no amor, na vida, nos negócios... O “blá, blá, blá” de antigamente é o mesmo de hoje, com algumas nuances. Felicidade, antigamente, era uma palavra mais ligada a coisas singelas da vida, como casar, ter um filho, receber flores. Hoje tem se tornado objeto de comércio e marketing, por parte dos veículos de comunicação, empresas e até igrejas. “Mas que mal há nisso?”, talvez algum(a) leitor(a) pergunte intrigado(a).

Está certo, mal pode até não fazer – que mal pode haver em se desejar coisas boas, um recomeço, uma vida nova, um ano novo? Porém, em que medida realiza o bem? Esse “bem” não é apenas o fazer-se-sentir-bem dos psicologismos auto-estimulantes e das “piedades pervertidas” (Ricardo Quadros Gouvêa) de nosso tempo, mas um “bem” conforme os padrões Divinos, que nem sempre (ou quase nunca) coadunam com as expectativas irrealísticas reverberadas por cada um de nós, ano após ano. A esse respeito, a palavra de Deus ao profeta Jeremias me chama atenção: “Eu é que sei os pensamentos que tenho a vosso respeito; pensamentos de bem e não de mal, para vos dar o fim que desejais” (Jr 29.11).

O “fim” aludido no texto é bem específico, e não genérico – pois diz respeito ao anseio mais premente do povo naquele instante: a libertação do cativeiro na Babilônia. Logo, não é um texto a ser aplicado deliberadamente (e há algum que pode ser?). A lógica da banalização, se pudesse prever, pode ser resumida no seguinte: ora, se os pensamentos de Deus são de bem, para dar o fim que eu desejo, então Deus (que é o “Deus dos impossíveis”), está disposto a mover céus e terra para me beneficiar – como fazer parar uma chuva, apenas para que eu possa ir de um lugar a outro sem me molhar, por exemplo. Essa lógica é furada. Primeiro, porque transgride o sentido bíblico. Segundo, porque promove uma transferência de vontades: de mim para Deus e de Deus para mim, como se entre ambas houvesse uma perfeita harmonia e como se o que pensássemos ser “muito bom”, em qualquer situação, de fato realizasse o bem de Deus em nós.

Desse modo, invertemos os paradigmas, subvertemos as “vontades” e simplesmente absorvemos as prioridades que estão na agenda da humanidade ano após ano, como se elas representassem a todos num todo, como se convergissem com as dinâmicas da realidade e ainda conseguissem manipular a Deus, que simplesmente assina embaixo e abençoa a todos, fazendo o papel do “bom velhinho”. Honestamente, chamem-me de cético, chato, pessimista ou do que quiserem, mas isso tudo não passa de ritual vazio e quimérico papagaiado por todo mundo todos os fins de ano sem a devida reflexão e percepção da realidade ao redor. Falta-nos sensibilidade e criticidade e muito mais.

Jonathan

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Neste natal, você precisa engravidar!

Maria... achou-se grávida pelo Espírito Santo” (Mateus 1.18).
Sob certo ponto de vista, o natal é uma festa religiosa como qualquer outra, onde se comemora o advento, a vinda do “menino Deus”. Mas por que celebrar a vinda de Deus se, durante todo o ano, tocamos nossas vidas como se ele não existisse? O que, de fato, as pessoas estão celebrando? Celebração por celebração existem tantas outras – aniversário, dia das mães, dos pais, das crianças, das mulheres, etc. Assim, o que faz – ou deveria fazer – do natal uma celebração tão especial?
Para mim, o natal traz uma notícia especial: a de que, queiramos ou não, acreditemos ou não, não estamos sozinhos nesse mundo. Foi-nos enviado o Emanuel, que significa “Deus conosco”. O barco da história não está à deriva. Deus está nele com a gente. A salvação está hoje-já-aqui-presente. Deus, como diz uma canção, “não vive longe lá no céu sem se importar comigo”. Ele se encarnou para viver em e com a humanidade.
Nesse sentido, chama-me a atenção a metáfora utilizada por William P. Young, autor do livro “A Cabana”, de que, em Jesus, vemos um Deus que, ao contemplar a desgraça da humanidade e o caos no mundo, arregaçou as mangas e se meteu “no meio da bagunça”. Foi Jesus mesmo quem disse: “O reino está entre vocês”. Não de maneira estrondosa, como os grandes e pomposos reinados humanos, mas silenciosa e revolucionária. As visibilidades e sinais do reino são pessoas que levam a sério o chamado de Jesus e encharcam suas vidas e a de outras pessoas com amor, paz, justiça, solidariedade, equidade, liberdade, compaixão, enfim, a lista é grande.
Então, por que ainda persiste esse sentimento todo fim de ano de que a mensagem do natal “cai no vazio”? Vazio que tem sua maior expressão quem sabe no consumismo, um dos deuses deste século. Porque, em muitas pessoas, mesmo as mais religiosas, Jesus ainda não nasceu. Pode ter nascido na história, mas ainda não no ser das pessoas. E o que é preciso acontecer antes do nascimento? Todos sabem que é a gravidez. Maria foi engravidada pelo Espírito de Deus. Tem gente que ainda conta a história da cegonha para seus filhos, e acho que, para muita gente de religião, “Jesus” veio pela cegonha, ou seja, não nasceu de fato, foi encomendado, é um “Cristo genérico”, parafraseando Eugene Peterson, ou um Jesus “Genésio”.
Para que Jesus nasça em nós e para que o natal tenha sentido, precisamos nos deixar ser engravidados pelo Espírito. Somente ele pode nos engravidar de Jesus, do Deus conosco operando em nós aqui e agora. O sacerdote (padre, pastor, xamã, guru, pai de santo, etc.) não é capaz, nem a religião, nem as boas obras, nenhuma criatura, nenhum rito, culto, sacrifício, nada. Por isso, deixe o Espírito te engravidar da vida plena: de liberdade, de sonhos, de projetos de vida que sejam um convite para que o “Deus conosco” esteja em todos eles, no próximo ano e para o resto de sua vida.
Pense nisso, e abra de uma vez por todas sua vida para que o Espírito de Deus te engravide de Jesus! Grande beijo e um feliz natal!
Jonathan

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

E se todos os dias fossem como o natal...

A recomendação do rei Herodes Antipas aos três reis magos era para que eles fossem até o local onde estava o menino, o reconhecessem e depois voltassem com as indicativas do caminho para que, posteriormente, ele também pudesse ir e “adorá-lo” (Mt. 2:8). Mas a estrela parece ter “aberto os olhos” daqueles magos em todos os sentidos: quanto aos intentos malévolos de Herodes (o que na verdade foi-lhes revelado em sonho), para uma realidade maravilhosa que estava por vir, jamais antes experimentada pela humanidade, para o próprio Deus encarnado em uma criança recém-nascida. Naquele momento parece ter havido uma mudança de sentido, uma conversão de motivações e emoções. A curiosidade transformou-se em certeza, e o vazio foi preenchido por uma “profunda alegria”.

Natal é tempo de mutações. Não apenas as cidades ficam mais bonitas e coloridas, com suas agitações típicas e decorações peculiares, mas o comportamento das pessoas também parece mudar. Ainda que por pouco tempo, a fraternidade substitui o individualismo, a solidariedade toma o posto da indiferença, a superficialidade e fugacidade que marcam a vida nos grandes centros dão lugar à generosidade, à compreensão e ao amor. “Reconciliação” seria a palavra exata para expressar tudo o que estou dizendo. Não seria este o “espírito do natal” de que tanto se fala? Ora, não me refiro aqui ao “espírito” consumista que contagia as pessoas nesta época, nem tampouco aos presentes, árvore de natal ou Papai Noel. É inegável que tudo isso influencia e muito. Mas ao que verdadeiramente faz do natal um tempo diferente: Jesus.

Ah, e se todos os dias fossem como o natal? Se Jesus deixasse de ser apenas um símbolo guardado na memória, de quem nos lembramos por conveniência, como quem tira um coelho da cartola, apenas em datas comemorativas do calendário “cristão”, passando a ser o referencial de vida das pessoas que o apontam como o “verdadeiro sentido do natal”, todos os dias do ano? Então poderíamos finalmente viver o natal como é para ser vivido, como um interminável tempo de Graça, como uma estrela sempre presente no céu a brilhar, nos lembrando de que o Emanuel permanece conosco, enchendo-nos de paz e alegria, transformando-nos para que transformemos este mundo, e produzamos frutos “dignos de arrependimento”, trazendo de volta à vida aqueles a quem Ele quer bem.

Jonathan

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O Milagre do Natal

A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria” (Mateus 2.10).

Fico tentando imaginar a sensação daqueles três reis magos, que vieram do Oriente, ao contemplarem a estrela que apontava para Belém, onde algo muito importante tinha acontecido, algo que mudou a história de todos nós. Tente pensar comigo como seria a manchete no jornal da época (se isto existisse): “Extra, Extra. Nasceu o Rei e Salvador dos judeus – na manjedoura localizada numa pobre estrebaria”.

Este é o tipo de notícia que, naquele tempo, seria motivo para umas boas gargalhadas. E sabe por quê? Porque todo rei que se preza, nasce em “berço de ouro”, no palácio real, em meio a muito conforto e mordomia. É assim que todo mundo pensa. Esse era o tipo de salvador que todo mundo esperava. Então, como pôde um menino, que seria chamado “rei”, nascer num lugar sujo, pobre, provavelmente fedido e cheio de animais ao redor? Como pôde ser filho de uma simples camponesa e de um carpinteiro?

Eis a resposta que nem todos entendem: o rei Jesus é um rei diferente. É um rei que veio para fundar um reinado em que não importam os bens e valores materiais que se possa conquistar. Um reinado que não tem um palácio, nem está em um lugar ou um tempo determinados. Mas, sim, é um reino que se constrói com outros tipos de valores, como paz, alegria, justiça, igualdade, liberdade, compaixão e, sobre todos esses, o amor. O amor a Deus e às pessoas desse mundo. São valores do reino de Deus, que é o reino que Jesus veio inaugurar.

Esse reino é feito de pessoas falhas e pecadoras como eu e como você! Tudo isso, por todos nós, meninos e meninas, homens e mulheres, seres a quem Deus ama muito. E é por causa desse grande e eterno amor, que Deus nos chama para viver no seu Reino. Essa é alegria e o grande milagre do natal: de podermos fazer festa, porque Jesus veio para convidar a gente pra fazer parte do seu reino! Que grande notícia, é a boa notícia. Então, façamos festa e espalhemos aos outros essa notícia: “nasceu o nosso Salvador e Rei!”

Jonathan

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

As conexões entre sexualidade e espiritualidade

A intenção de Rob Bell ao explorar nesse livro Sex God as conexões entre sexualidade e espiritualidade me parece salutar e relevante.

Primeiro, porque as histórias da Bíblia convergem para a “conexão”, de um Deus que a todo o momento deseja relacionar-se com seu povo e sua criação, mas cuja intenção nem sempre é genuinamente correspondida. Isso, devido aos muitos obstáculos criados pelo ser humano, que o conduziram ora a um relacionamento superficial com Deus, de troca, barganha, legalismo e expectativas, ora a uma rejeição prática, à medida que se assentiu ao convite tentador da serpente para ser “como Deus”, declarando, assim, sua (nossa) independência.

Segundo, porque as pessoas de nosso tempo estão cada vez mais “antenadas” a tudo que acontece ao seu redor, e cada vez menos capazes de contrair experiências duradouras e profundas, vivendo, portanto, uma história sem raízes, relacionamentos descartáveis, vidas que não se conectam a outras vidas.

A posição de Bell, todavia, é suficientemente clara: você pode, de diferentes maneiras (e o sexo é uma delas), “estar” com um número variado de pessoas e não permanecer conectado a nenhuma; de igual modo, pode-se ter uma gama apreciável de performances rituais e “espirituais” para Deus ou até gabaritar na prova de conhecimentos bíblicos, sabendo a Bíblia “de cabo à rabo”, e não saber absolutamente nada sobre Deus, visto que Deus é amor, e está muito mais interessado na intensidade de nosso amor que na quantidade de nosso conhecimento, sendo o verdadeiro saber – dádiva Divina – qualidade inerente daquele que ama, conforme Deus ama (ágape).

E o amor pressupõe conexão e profundidade. E o sexo com amor é o prazer que conecta, liberta e completa os amantes para serem um do outro e um para o outro. Não foi assim que Deus designou no princípio? Da costela do homem, Deus havia criado a mulher. Eles não apenas tinham a mesma natureza (húmus – pó – humano), mas haviam sido criados para viver em permanente conexão entre si, e com seu Criador. “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gn 2.24).

O sexo é uma dessas bonitas e benditas expressões da criação. Duas pessoas diferentes e especiais se unem; seus corpos se tocam, se interpenetram; de duas carnes, uma só se faz. E a conexão não está apenas nos corpos que se juntam, mas nas almas que se encontram. Assim, pode-se dizer como a mulher no Cântico dos Cânticos: “Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu”. E assim se completa o desejo do Senhor: a pela realização do ser humano, como mais fina expressão de seu amor e presença nele e com ele. Logo, esse amor não pode ser algo abstrato ou virtual, como um beijo que se manda pelo Messenger ou um “scrap” pela página do Orkut. Mas é a presença de Deus reverberando em nós, através de relacionamentos vivos e reais entre pessoas de carne e osso; é o Deus-concoso-aqui-já-sempre.

O pecado, portanto, não habita no sexo, nem em nada que lhe diga respeito. Ele habita, sim, no ser. Enquanto o ser estiver corrompido, todas as suas relações também estarão. O amor, por sua vez, é o “vínculo da perfeição”, como diria João. Onde houver amor, haverá o sólido convite e possibilidade para que vivamos a plenitude de Deus com alegria, gozo e liberdade. “Ame e faze o que quiseres” (Santo Agostinho). Sem amor nada somos e tudo o que fazemos torna-se nonsense, parte de uma precária provisoriedade.

Jonathan

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Sexualidade: repensando nossa definição - por Rob Bell

Se tomarmos seriamente a compreensão de nosso estado natural, devemos repensar o que sexualidade é. Para muitos, sexualidade é simplesmente o que acontece entre duas pessoas envolvidas num prazer sexual. Mas isso é apenas uma pequena porcentagem do que sexualidade é. Nossa sexualidade tem a ver com o todo dos caminhos pelos quais nos esforçamos para nos reconectar com o nosso mundo, uns com os outros, e com Deus.

Um amigo meu tem dedicado sua vida para estar ao lado daqueles que têm sido esquecidos e oprimidos. Ele está no começo dos trinta anos, é solteiro, e ele fala abertamente sobre seu celibato. O que torna sua vida tão poderosa é que ele é uma pessoa muito sexual, porém ele tem focalizado sua sexualidade, suas “energias para conexão”, num grupo específico de pessoas.

Algumas das pessoas mais sexuais que conheço são celibatárias.

Elas dormem sozinhas.

Eles têm escolhido se doar para várias pessoas, para servir e a dar e assim conectam suas vidas a causas muito dignas. Esses amigos me ajudaram a entender por que a Red Light District[1] em Amsterdam é tão sexualmente reprimida. Se você algumas vez já andou por essa parte da cidade, onde a prostituição é legal, você sabe que pode ser um pouco controverso ter aquelas mulheres na vitrine gesticulando para você, te convidando para entrar e fazer “sexo” com elas.
O que é mais espantoso é perceber o quão não-sexual toda aquela parte da cidade é. Tem um monte de gente “fazendo sexo” dia e noite, mas não passa disso. Não há conexão. Essa é, na verdade, sua única forma de funcionamento. Eles concordam em pagar certa taxa para a performance de certos atos, ela faz performance pra eles, ele a paga e ambos partilham um desempenho. A única maneira de eles se encontrarem outra vez está na improvável possibilidade de ele retornar e eles repetirem a performance. Não há conexão, não obstante.

Então na Red Light District há uma série de interações físicas sem conexão. Há um monte de pessoas tendo um sexo físico – para alguns isso é trabalho – e aquele ainda não é um lugar realmente sexual.

Tem até um termo que alguns utilizam empinando a face – “sexo casual”. O raciocínio que se tem, freqüentemente é: “É apenas sexo”.

Exatamente. Quando o que rola é apenas sexo, então é tudo o que é. Deixa a pessoa profundamente desconectada.

Você pode ter sexo com muitos, e ainda estar sozinha. E quanto mais sexo você tiver, mais sozinha estará. Ao mesmo tempo é possível dormir sozinho e celibatário, e ser muito sexual. Conectado com muitos. Igualmente é possível estar casado com alguém compartilhando da mesma cama e até tendo sexo regularmente e permanecer profundamente desconectado.

Há um ditado que afirma: “Você é apenas tão doente quanto seus segredos”. Isso é verdade também para os relacionamentos. Se há segredos não partilhados, tópicos que não podem ser discutidos, coisas do passado proibidas de serem trazidas à tona, podem matar um casamento.
Então eles estarão dormindo juntos, mas eles estarão realmente dormindo sozinhos.

Rob Bell
(Trechos traduzidos do livro Sex God. Grand Rapids: Zondervan, 2007).

Notas
[1] Distrito da Luz Vermelha, lugar da prostituição legalizada em Amsterdam.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Natal: a confraternização dos fracos

Felizes são os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5.3).

É difícil falar de fraqueza para um universo que supervaloriza a performance e a realização pessoal acima de todas as coisas, e que consagra uma velha casta, a qual sempre reaparece com novas facetas: os auto-suficientes. Sem questionar para onde e até onde vamos com este estilo de vida, aceitamos as regras e compulsões ditadas pela sociedade, que tende a eliminar de seu vocabulário palavras como vulnerabilidade, choro, dor, lamento e pobreza, e a destacar a supremacia dos mais fortes. Assim, nos tornamos seres que não abrem mão do controle de nossas vidas medíocres e alimentamos a simulação de uma fachada indelével.

Interessei-me de bom grado pela idéia de Henri Nouwen de “confraternização dos fracos”, pois ela preconiza uma possibilidade honesta e tremendamente humana, a saber, a participação fraterna nas dificuldades uns dos outros, complementando e ajudando uns aos outros, visto que todos possuímos fraquezas de diferentes espécies. Isso é com-paixão. Penso que esta idéia se aplica perfeitamente à celebração do natal, por duas razões. A primeira já foi delineada e aponta para a voz do mal na sociedade e na igreja, que nos condiciona a jamais demonstrarmos nossas fragilidades. A segunda diz respeito ao que o natal festeja: o nascimento na história do Deus que se fez gente, Jesus, e que encarnou a fragilidade, a dor, e a “desprezível” miséria da condição humana, desde a inglória manjedoura até a insuportável cruz, expondo sua total vulnerabilidade para que, através de sua morte, encontrássemos vida. Inconcebível loucura, Maravilhosa Graça!

Portanto, natal é a confraternização de homens e mulheres que não têm vergonha de celebrar a vida, admitindo todas as suas incoerências e limitações, reconhecendo sua pobreza, bebendo de seu próprio cálice, recebendo de Cristo o cálice da salvação e a revelação da face humana de um Deus que não se esconde atrás de um nome, de um título ou de um ofício, mas que se apresenta na completa vulnerabilidade de seu amor, para a redenção da criação, a qual perdeu a noção do que é o amor. Que neste natal, eu e você possamos despertar do sono e do cativeiro, num movimento de retorno a este Deus e a nossos irmãos e irmãs Nele.

Jonathan