quarta-feira, 25 de junho de 2008
A excelência do amor
terça-feira, 17 de junho de 2008
Nietzsche e o cristianismo (final)
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Nietzsche e o cristianismo (III)
Uma das grandes vitórias do “Coisa-Ruim” em relação ao cristianismo está no fato dessa religião ser, em tese, a origem explicativa para a questão do prazer e, na prática, o meio mais eficaz de sua depreciação. Religião e prazer, nesse sentido, são antônimos, nunca se cruzam. No cristianismo, o corpo é apenas um instrumento imperfeito através do qual Deus quer que nossas almas elevadas sejam, por meio de muita abnegação, luta e auto-flagelação, levadas à perfeição cristã (John Wesley). Só que essa busca de perfeição, tantas vezes, é transformada em neurose de perfeição, de modo que o indivíduo vai sendo neuroticamente conduzido a uma vida de privações ao corpo, ao prazer (visto como maldição) e a ver as coisas naturais como profanas e rechaçáveis, dando valor apenas às coisas sobrenaturais.
Esse jeito “insosso” é a meu ver o que muitos chamam de “santidade”. Mas quem disse que pra ser santo é preciso ser menos humano? O cristianismo, na certa. Agora, o direito de sermos sempre mais humanos não é profano, como diz a canção, e nem sagrado (do ponto de vista cristão), mas Divino ô cara pálida! Deus deseja que sejamos plenamente humanos, como foi seu Filho e nos cubramos de uma nova humanidade, não nova angelicalidade.
quarta-feira, 11 de junho de 2008
Nietzsche e o cristianismo (II)
terça-feira, 10 de junho de 2008
Nietzsche e o cristianismo (I)
Um dos problemas centrais no pensamento de Nietzcshe diz respeito à verdade. O que é a verdade? De onde ela provém? A esse respeito, ele escreveu um ensaio em 1873, que denominou “Sobre a verdade e a mentira no sentido extra-moral”. Isto, pois, a “verdade” proclamada ainda em seu tempo era a verdade da metafísica (no campo das ciências naturais e do espírito) e a verdade moral (pelo cristianismo). Se a verdade não está nem na metafísica e nem na moral cristã, onde está ou em quem? Para Nietzsche, a verdade pode ser vista como:
Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismo, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, aparecem a um povo sólidas, canônicas, obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram gastas e sem força sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em consideração como metal, não mais como moedas (Nietzsche, 1978, p. 49).
A verdade, da filosofia, do cristianismo, para ele, jamais poderia ser conhecida como Verdade, porque sempre é fruto de uma compreensão ou olhares parciais, de uma transformação de Deus pelo homem e no homem (antropomorfismo), das palavras pelo homem, sempre imaginando que com essa manipulação possa representar as coisas tais como são. Mas não. O que se produz não passa de metáfora (semelhança ou reflexo da coisa) ou metonímia (outra palavra para a coisa), mas nunca a coisa em si. Assim, dogmas não são verdades de Deus, embora se lhes atribuam tal valor; o cristão, por mais que conheça a Jesus (caminho, verdade e vida) jamais poderá exprimir absolutamente essa verdade nas coisas que cria (dogmas, estruturas, instituições). Logo, a religião fala muito mais da forma humana que da forma de Deus. Por que será que Jesus não respondeu a Pilatos a tão crucial pergunta: “O que é a verdade”? Porque ele sabia que dar forma verbal à verdade, criando uma filosofia ou ideologia, seria o mesmo que matar a própria verdade. Diria tudo, menos “a verdade”.
Assim, ele aponta para si como sendo o Logos, o Verbo de Deus, a Verdade Encarnada, Vivida, Visceralmente experimentada. A verdade, conforme Jesus, não se conhece (cognitivamente), nem se representa ou se expressa (dogmaticamente), mas se experimenta, se vive e pronto. A verdade que Nietzsche critica é essa que afasta o próprio homem do caminho da verdade, embora nem o filósofo soubesse apontar “um caminho” sequer, mas sempre a via do paradoxo, do trágico, da idiossincrasia das "verdades" humanas: capengas, irreais, ilusórias. A verdade é experimentada por ele como contradição e antítese dos caminhos do dogmatismo. Era difícil para quem se auto-intitulava “espírito livre” ser comandado pelas mordaças da verdade dogmática, aceitando passivamente o “julgamento”. Seu livro, O Anticristo, deve ser lido como o anticristo do cristão. Contra esses, ele afirma: “Ao fazerem Deus julgar, julgam eles próprios; ao glorificarem a Deus, glorificam a si próprios, ao exigirem precisamente as virtudes para as quais são aptos (...) na verdade fazem o que não podem deixar de fazer”, porque isso se constitui como mandamento, dever, ordem, obrigatoriedade".
O grande combate de Nietzsche em Humano, Demasiado Humano, por exemplo, não é a religiosidade em si, como categoria inata ao ser humano, mas a religião e seus dogmas que, ao apresentar-se como verdade, aprisionam o ser humano e matam a liberdade de expressar suas emoções ao indizível, em dar vazão às pulsões de incompletude que procedem do interior e não se completam com meras ritualidades do exterior. Nas palavras do filósofo, “nisto se percebe que os espíritos livres menos ponderados se chocam apenas com os dogmas, na realidade, e conhecem bem o encanto do sentimento religioso; é doloroso para eles perder este por causa daqueles” (2006, p. 93).
Jonathan
sexta-feira, 6 de junho de 2008
O que é ser santo?
Ser santo é ser separado, não dos pagãos; como Israel equivocadamente tentou, mas é viver a diferença radical dos valores do Reino em meio às sociedades pagãs (Mt. 5.43-48). Ser santo é ter na paixão dos profetas a motivação existencial para o nosso enfrentamento histórico do mal (Lc. 13.33). Ser santo é, mesmo em dia de sábado, trabalhar a favor da santidade de vida (Lc. 14. 1-6). Ser santo é colocar o valor da vida acima do valor das coisas, mesmo aquelas mais "sagradas" (Mt. 23.23). Ser santo é entender que o altar diante do qual Deus nos quer ver prostrados não é apenas o altar do templo, mas também os altares ensangüentados dos corpos dos nossos irmãos de história e que estão caídos nas esquinas da vida (Lc. 10.25-37).
Ser santo é viver a misericórdia no agitado ambiente secular, ao invés de viver a quietude alienada do ambiente religioso que não tem janelas para a história da dor humana (Mt. 9.9-13). Ser santo é acreditar que a santidade não se polui quando toca com amor, aquilo que é sujo (Mt. 8.1-4; Mc. 7.1-23). Ser santo é não temer ser mal interpretado pela mente daqueles que estão sujos de pretensa santidade.(Mc.7.5;Lc.7.39). Para Jesus ser santo é ser verdadeiro para com a nossa condição humana: é ter a coragem de chorar em público (Jo. 11.35), de admitir perdas e saudade (Jo. 11.36), de gritar de dor (Mt. 27.50), de confessar depressão (Mt. 26.38), de pedir ajuda emocional(Mc. 27.50), de se confessar cansado (Jo. 4.6), de dizer tenho sede (Jo. 19.28), de confessar dificuldades familiares (Mc. 3.21;Jo. 7.1-9), de admitir que a privacidade é um direito e uma necessidade de sobrevivência (Mc. 6.30-32,45,46).
Ser santo é admitir que o amor pode ser exercido na perspectiva da disciplina física (Mc. 11.15-19) e que o "desabafo" é um sadio escape quando se está farto de estupidez (Lc. 11.31-32). Ser santo é continuar sendo de Deus mesmo em meio ao mais profundo e inexplicável silêncio divino (Mt. 27.46).
Caio Fábio
Trechos do livro Oração para Viver e Morrer.