Sexo antes do casamento é pecado? Masturbação é pecado? Se “tocar”, um ao outro, antes do casamento é pecado? Estas são perguntas corriqueiras entre jovens cristãos e que, de modo geral, na igreja são tratadas de forma pouco profunda, evasiva e, na maioria das vezes, sob ponto de vista legalista-fundamentalista. Dúvidas surgem, as respostas são vagas e farisaicas, e a tendência é que o jovem caminhe em um ou outro extremo: ou de forma dissoluta e libertina, ou em um puritanismo “castrante” e recluso.segunda-feira, 31 de março de 2008
Uma breve conversa sobre sexo (Parte I)
Sexo antes do casamento é pecado? Masturbação é pecado? Se “tocar”, um ao outro, antes do casamento é pecado? Estas são perguntas corriqueiras entre jovens cristãos e que, de modo geral, na igreja são tratadas de forma pouco profunda, evasiva e, na maioria das vezes, sob ponto de vista legalista-fundamentalista. Dúvidas surgem, as respostas são vagas e farisaicas, e a tendência é que o jovem caminhe em um ou outro extremo: ou de forma dissoluta e libertina, ou em um puritanismo “castrante” e recluso.sexta-feira, 28 de março de 2008
O olhar da Graça
Hoje é meu aniversário: 27 anos intensos de Graça. Mais do que nunca, quero cultivar esse olhar: pra vida com gratuidade e gratidão; para as pessoas com amor, compaixão e ternura, assim como Jesus. Essa meditação escrevi há uns anos atrás. Ainda reverbera em meu coração de modo especial. Espero que também o faça no de vocês.quarta-feira, 26 de março de 2008
Religião, votos e sacrifícios
Não pode haver abominação maior, escárnio mais tenebroso aos olhos de Deus que a devoção e sacrifícios externos a Ele de um lado, aliados a um vazio e uma escuridão interna decorrentes de um coração maligno e idólatra. Religião, "Bandeira do inferno" (como denominou Glenio Paranaguá); emissária de Satanás enviada para incutir na mente dos crentes um falso senso de pureza e autojustificação, levando-os ao patamar do orgulho e beirando a intolerância. Afinal, uma reparação exterior é sempre mais simples e atraente que a árdua missão de "reformar" o interior.segunda-feira, 24 de março de 2008
Uma breve história da religião
Sintomático, simplista talvez, mas capta a essência da coisa: o que deveria ser amor, paz, liberdade e libertação, do outro e para o outro, degenerou-se em fundamentalismo e violência. E tudo isso por e para uma suposta entidade a quem chamam "Deus". Mas quão distante esse tipo de mentalidade está de captar algo tão simples e tão complexo:Jonathan
A religião dos 'puros' e 'sem mácula'
A religião se torna um instrumento vão nas mãos daqueles que facilmente se conformam aos ditames de sua cultura (como o que tem acontecido com uma parcela de cristãos, submersa na atual “cultura da bobalização”, que diz: “acumule!”, enquanto a Palavra nos ensina a repartir). E o resultado é que os tais deixam de amparar ao necessitado, de exercer misericórdia e justiça ao oprimido, de acolher ao órfão, à viúva e o estrangeiro.sábado, 22 de março de 2008
Viva! O Nosso Redentor Vive!
HOJE, ACORDEI COM MUITA VONTADE DE VIVERDE VIVER MESMO A VIDA QUE DEUS ME DEU
PREENCHIDA POR AQUELA QUE, EM CRISTO, ELE ME LEGOU:
ALEGRE, COM TONS COLORIDOS, SUAVES E VIVOS,
QUE FAZEM FORTE CONTRASTE ENTRE AS ANTIGAS “CORES”,
“NUBLADAS E TRISTES”, QUE, SEM SUCESSO, PERSISTEM
EM QUERER MANCHAR O QUE O PINTOR, GÊNIO CRIATIVO,
PINTOU COM PERFEIÇÃO
HOJE, ACORDEI COM A ALEGRE CERTEZA DE QUE,
MAIS DO QUE NUNCA, ESTOU VIVO PRA CRISTO,
PORQUE HOJE, MAIS DO QUE ANTES HOUVERA CRIDO,
“EU SEI QUE O MEU REDENTOR VIVE!”.
VIVE EM MIM, EM NÓS, E VIVE PARA QUE NELE VIVAMOS,
SENDO NÓS, NELE, UM SINAL TRANSFORMADOR DO LUTO,
EM EXULTAÇÃO PELA SALVAÇÃO ETERNA.
PERSISTIMOS VIVENDO, EM MEIO À “ORDEM” DESORDENADA DESTE MUNDO, ALIMENTADOS PELA EXPECTATIVA DA VINDA REAL, A REAL ESPERANÇA DE QUE A PLENITUDE DESTA VIDA, NÃO É AQUI, NEM AGORA, MAS GLORIOSAMENTE HÁ DE VIR.
AH, E COMO AGUARDAMOS ESTE DIA, GRANDE DIA, MARANATA! QUANDO TODOS, A UMA SÓ VOZ, DE UMA VEZ POR TODAS, PODEREMOS DIZER: “BENDITO SEJA AQUELE QUE VEM EM NOME DO SENHOR!”
quinta-feira, 20 de março de 2008
Redescobrindo a alegria
“Digo isto não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (Filipenses 4.11).Como vai dizer C. S. Lewis: “O que me agrada na experiência é a sinceridade que nela percebo. Você pode tomar quantos desvios quiser; mas basta manter os olhos bem abertos, que logo verá a placa de alerta. Talvez você se tenha enganado, mas a experiência não tenta enganar ninguém. O universo se mostra fiel sempre que você o testa com justiça” (Surpreendido pela alegria, p. 182). O problema é que nem sempre estamos de olhos abertos, seja por insensibilidade, opção ou por pura preguiça de abrir os olhos. A pior enganação é aquela em que a gente finge que está sendo enganado enquanto um universo de coisas acontece em nosso entorno.
Talvez pudesse aqui falar de alegria começando pelo que ela não é – falo de uma alegria mais profunda: a alegria cristica (de Cristo). Fujo propositalmente do termo “cristã”.
1. Alegria não é empolgação. Empolgação é um subproduto da alegria. Acontece quando nosso desejo e atenção estão focados em alguma coisa (tipo, paquerar uma garota e perceber que há correspondência). Mas, de um jeito ou de outro, a empolgação vai embora; e, se alegria fosse empolgação, o que restaria?
2. Alegria não é prazer emocional ou estético. Embora, é claro, os inclua. O aguilhão do prazer é a satisfação. Enquanto há satisfação, o prazer está garantido. Mas se não há satisfação, não há prazer. E se alegria só se resume a prazer, com que rapidez não se perderia?
3. Alegria não é otimismo ingênuo. O otimista é aquele que age pautado na crença de que o amanhã sempre será melhor que o hoje. Mas, e se não for melhor? Bem, se não for, e a alegria for apenas otimismo, então, ela não escoaria outra vez pelo ralo?
4. Alegria não é ausência de tristeza. Tomo emprestada de Henri Nouwen essa expressão. Ora, se tristeza óbvia da condição humana é apenas produto de tristeza e só produz mais tristeza, então estamos fadados a ser um bando de melancólicos desconsolados. Prefiro pensar, porque assim permite meu olhar para a realidade e para as Escrituras, que alegrias e tristezas se misturam nessa dança da vida, de modo que só há sentido para uma na presença da outra. Só experimentamos a profundidade do que é a alegria de Cristo, quando nos deparamos com a tristeza, bem como só sabemos que a tristeza é tristeza porque um dia tivemos um relance, pelo menos, do que seja a alegria. Logo, elas deixam de ser pólos que se repelem e assumem o lugar de irmãs de jornada.
A alegria é um aprendizado. Essa é a deixa de Paulo. “Aprendi a viver contente”, ele diz. E em toda e qualquer situação, inclusive de tristeza mais profunda. Os caminhos do aprendizado são sempre mais difíceis. Ensinam-nos que na vida transitamos por diferentes situações, de tristeza e alegria, pranto e riso, fracasso e vitória, perda e ganho, e nem sempre de forma sucessiva, mas também simultânea.
E a alegria de Cristo, cf. Paulo, não é um produto de fórmulas instantâneas – tal como: “pense positivo, e tudo dará certo”. Pelo contrário, ela nasce da compreensão de que tudo podemos suportar amparados na força que Deus supre – “tudo posso naquele que me fortalece”. É possível que até não estejamos lá muito contentes com a circunstância vivenciada, que pode ser a de um desejo não realizado, uma perda, frustração, fracasso, depressão, etc. Contudo, podemos esperar e nos alegrar em Deus, que nos acompanha e nos ajuda a passar pelo processo, de todas essas situações e muitas outras quem sabe, sem perder a alegria Nele, uma alegria mais profunda e enraizada, que transcende o mero sorriso; isto, pois é fruto da esperança que brota do coração, que até pode se encharcar com um riso, mas se aformoseia mesmo e é semeado com as lágrimas.
Como diz o autor de Eclesiastes: "Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração" (Ec 7.3).
quarta-feira, 19 de março de 2008
Não quero ser feliz
Desisto, não quero mais ser feliz. Procurei a felicidade como um caçador de borboletas. Armado de redes e binóculos, percorri florestas e cavernas buscando prender minha libélula, mas acabei frustrado: ela sempre voava para mais longe de mim. Desisto, não quero mais ser feliz. Agora, vou contentar-me em perseguir a justiça. Tocarei minha vida advogando o direito dos meninos de jogarem pedras em mangueiras e de nadarem em lagoas. Conformado com minha sorte, protegerei as meninas que brincam de pular corda; elas nunca deveriam precisar ganhar dinheiro para alimentar a família.Ricardo Gondim
terça-feira, 18 de março de 2008
Alegria: coisa pra poucos!
Volta e meia ouvimos na igreja que a alegria deve ser a marca distintiva do crente. Mas muitas vezes isso se torna algo do tipo “kit-viagem para o país das maravilhas com Alice e o coelhinho”, ou quem sabe não seria uma espécie de “selo de qualidade cristã”: se você tem, tudo bem, mas se não tem, algo deve estar errado com sua fé. Quantas e quantas vezes cheguei até a me culpar por ser induzido a pensar desse modo nada realístico com que a igreja trata de alegria e felicidade hoje, nada diferindo inclusive da alegria ópio que o mundo pós-moderno tem proposto, do sorriso estampado no rosto, pensamento positivo, muito dinheiro no bolso e “saúde pra dar e vender”.segunda-feira, 17 de março de 2008
Alegres tristezas de ser feliz
Quero, essa semana, trazer algumas perspectivas sobre felicidade e alegria, tristeza e dor, no mundo atual...sábado, 15 de março de 2008
A última palavra sobre oração
“Quando ele abriu o sétimo selo, houve silêncio nos céus cerca de meia hora. (...) E da mão do anjo subiu diante de Deus a fumaça do incenso com as orações dos santos”.(Apocalipse 8.1-5)
Extraído do livro Trovão Inverso: Apocalipse e oração imaginativa (Habacuc, 2004).
quinta-feira, 13 de março de 2008
O que fazer quando me sinto distante? (II)
“Tornai-vos praticantes da palavra e não somente ouvintes...” (Tg 1.22). Ao mesmo tempo em que a graça de Deus vem nos acolher em nossas fraquezas e superabundar frente à multidão de nossos pecados, ela também pressupõe compromisso de vida com o Deus da Palavra, que nos justifica, mas igualmente nos corrige, como uma faca de dois gumes. Muitas vezes, contemplamos e vemos nossos corações encharcados de uma angustia que nos tira o sono, que pode minar a incompreensível paz do Espírito, mas que também nos faz acordar para o fato de que, se chegamos nesse ponto, é porque nos afastamos da comunhão com Deus em algum momento ou circunstância de nossas vidas, seja pela apatia (o “mal do século” da Igreja), indiferença ou outro pecado.
quarta-feira, 12 de março de 2008
O que fazer quando me sinto distante? (I)
“Eu disse na minha pressa: estou excluído da tua presença” (Sl 31.22).terça-feira, 11 de março de 2008
Rumo a uma vida sem julgamentos
Uma das questões espirituais mais difíceis é a de viver sem preconceitos. Algumas vezes não temos nem consciência do quão profundamente enraizados são nossos preconceitos. Podemos até pensar que nos relacionamos de igual pra igual com pessoas que são diferentes de nós em cor, religião, orientação sexual, ou estilo de vida; mas, em circunstâncias concretas, nossos pensamentos espontâneos, palavras sem censura, e reações de bate-pronto frequentemente revelam que nossos preconceitos continuam lá.Gastamos uma grande parte de nosso tempo e energia fazendo nossas cabeças sobre outras pessoas. Nenhum dia passa sem que uma pessoa faça ou diga alguma coisa que evoque em nós a necessidade de emitir alguma opinião sobre ele ou ela. Nós ouvimos, vemos e conhecemos muitas coisas. O sentimento de que temos de classificá-los em nossas mentes e emitir julgamentos pode ser um tanto quanto opressivo.
Os pais do deserto disseram que julgar outras pessoas é um fardo pesado... Uma vez que deixamos de lado nossa necessidade de julgar o próximo, experimentaremos uma imensa e profunda liberdade. Uma vez livres do julgamento, estaremos também livres para a misericórdia. Lembremos das palavras de Jesus: “Não julgueis e não sereis julgados” (Mateus 7.1).
Henri Nouwen
From Daily Meditation
By Henri Nouwen Society (http://www.henrinouwen.org/)
segunda-feira, 10 de março de 2008
Ideal cristão: exclusividade ou inclusividade?
Defendo não só a exclusividade de Cristo como Senhor (o que não significa defender necessariamente todas as formas de cristianismo ou igreja), mas também que o movimento que ele fundou é para minorias, e não para multidões. As minorias serão o fiel remanescente, que compreende e busca viver a mensagem em sua integralidade, não se deixando guiar por qualquer "vento de doutrina" ou pela corrente mais atraente do momento ou que esteja de acordo com a moda. O Evangelho é universal e é para todos. Mas, por enquanto, apenas algumas minorias na história compreenderam que ser universal não significa ser arbitrário, violento ou autoritário.sábado, 8 de março de 2008
Sexo, Alpha Dog e a Cidade Secular
Há uma estreita relação entre sexo e secularização. Entende-se “secularização” como o processo de emancipação do homem e do mundo do controle religioso ou semi-religioso que os jugulava. Os seres humanos da cidade secular aos poucos foram não se permitindo mais serem regidos por leis ou mitos sagrados, mas governam a si próprios, criando para si outros “mitos”, como o da autonomia, da liberdade, do consumo e do prazer. E o sexo torna-se um parceiro mais que natural nessa busca, como meio de auto-realização, poder, satisfação, auto-engano. De modo que o ser outra vez encontra-se sendo dirigido por uma espécie mais perniciosa de governo, a autocracia ou “governo do eu” – sendo este seduzido pela ditadura do gosto e do estético.-
quarta-feira, 5 de março de 2008
Santidade e Sexualidade
Reconhece-se que as comunidades cristãs brasileiras não são exatamente um primor de sanidade mental. Que o digam os clínicos e as clínicas. Estamos bem distantes do ideal da Igreja como comunidade terapêutica, tão preconizado por teólogos do nosso século. São problemas diversos, em geral resultantes de uma educação familiar e eclesial censora e deformadora, quando a desinformação ou a informação inadequada (e vivência idem) resultam em manifestações patológicas de variadas formas. Patologias que realimentam e são realimentadas por aqueles grupos sociais, se reproduzem nas novas gerações ou nos novos convertidos, desservindo a causa do Evangelho e atestando negativamente "o novo homem em Cristo".Robinson Cavalcanti e os evangélicos
Eis, mais uma contribuição de Robinson Cavalcanti sobre o tema da sexualidade. Trata-se de um trecho do livro "Libertação e Sexualidade" (São Paulo, Temática Publicações, 1990). Apesar de ter sido escrito há um pouco mais de duas décadas, ainda é, em minha opinião, um dos únicos (senão o único) livros publicados em português que trata a questão de maneira aberta, ousada, bem fundamentada e, o que é melhor, sumariamente humana. Num artigo publicado em sua coluna na Ultimato em 2003, ele comentou sobre a reação ao livro e o tratamento do tema entre os protestantes:"Nessa área, o protestantismo brasileiro, no geral, fez uma opção por uma pretensa “reta doutrina” (dogmatismo), que é um conjunto ideológico estático, em que entram claros princípios bíblicos misturados com visões culturais e de classe, fortemente influenciada pelo “cinturão da Bíblia” (“Bible belt”) norte-americano" (Ultimato, Edição 285, Novembro-Dezembro 2003).
Há uma patente resistência ao nome de Robinson em alguns círculos, não só pelas posturas que adotou no passado e as trincheiras que assumiu na coisas que escreveu, mas também pelas polêmicas envolvendo sua pessoa no presente, especialmente em sua relação com a Igreja Anglicana e as posturas que tem assumido frente a questão do homossexualismo. Há quem ache que seus posicionamentos atuais são uma negação do que ele havia escrito no passado. Ele mesmo, penso, jamais admitiria tal incoerência - o que particularmente não concordo, visto que o ser humano, queira ou não, é um paradoxo - e um exemplo disso está no artigo que escreveu em resposta ao professor, também anglicano, Eduardo B. Calvani, sob o título: Coerência evangélica na terra do frevo. Sua frase inicial: “Ao contrário de certas lideranças da República, não esqueçam o que escrevi”. O título do artigo escrito por Calvani, por sua vez, é : Deus e o Diabo na terra do frevo - o maniqueísmo retórico de Dom Robinson Cavalcanti.
Apesar de tudo, ainda penso que o pensamento de Robinson ainda é um das poucas iniciativas que fazem jus a uma teologia da sexualidade bíblica e saudável, frente a um protestantismo de "reta doutrina", estéril e irrelevante. Faço minhas as palavras desse autor abaixo colocadas:
Jonathan
terça-feira, 4 de março de 2008
Sexualidade: o prazer que liberta
A sexualidade continua a ser o último tabu do cristianismo. Nada do que é humano nos deveria ser estranho (Terêncio). Os cristãos continuam a estranhar a natureza, ou, na visão de Rubem Alves, não querem ouvir “as vozes do corpo”. Nunca a civilização teve ao seu dispor tanta informação sobre o tema, mas não se avança porque não se lança mão desse material ou porque a apreensão se dá apenas no plano cognitivo e não existencial. A questão parece ser menos de conhecimento e mais de atitude. No Brasil, os evangélicos conservadores se dividem em dois grupos: a) os que nunca tocam no assunto e vivem a realidade empírica e a repressão; e b) os que patrocinam a divulgação de um só ponto de vista – o moralismo pequeno-burguês de inspiração norte-americana – e censuram qualquer outra opinião. A imaturidade e a insegurança não dão lugar ao pluralismo. O temor dos instintos e sentimentos conduz a normatização do erótico, a um legalismo irracional, anticientífico e patogênico. Evangélicos mais lúcidos se calam e se acomodam para melhor sobreviver. Outros reproduzem o discurso tradicional para garantir a carreira e a aceitação diante de um rígido e impiedoso controle social. Todos fiscalizam todos e se enquadram mutuamente. O processo é alimentado teologicamente pelas centrais do poder religioso conservador do Primeiro Mundo. Entre os protestantes liberais o quadro não é mais animador. Também teríamos dois grupos: a) o majoritário, constituído pelos que são “liberais” em tudo e “puritanos” quanto à sexualidade. Em quase nada se diferenciam de seus irmãos fundamentalistas. Liberais na cátedra e reacionários na vida; e b) o minoritário, formado pelos eternos vanguardistas, miméticos das vanguardas do Primeiro Mundo e que optam pela via mais fácil do relativismo.
Com relação à Teologia da Libertação, o reducionismo econômico e político impediram a reflexão e a práxis abrangente que incluísse a libertação do erótico, muito menos a percepção de Reich, em que o erótico libertador é o próprio veículo da libertação sadia, econômica, política e cultural. Nem Marcuse foi levado a sério. Honrosas exceções protestantes: Jaci Maraschin defende uma teologia do corpo; e Rubem Alves denuncia a semelhança reacionária entre o ascetismo religioso e o ascetismo político, que impedem um discurso sobre o prazer.
Robinson Cavalcanti
segunda-feira, 3 de março de 2008
Religião e Sexualidade
Talvez um dos assuntos mais espinhosos que qualquer um possa tomar a peito em nossa sociedade e, quiçá em nossas igrejas, é o da sexualidade. Mesmo em tempos em que, na prática, as pessoas têm "avançado" consideravelmente nessa matéria, seja por via propagandista (novelas, filmes, internet, etc.), seja pelo simples fato de que poucas coisas têm tido a capacidade de refrear os ímpetos de nossos jovens hoje no campo da sexualidade - e aqui incluo a própria religião e suas "leizinhas" de reprimenda e escravização do eu - ainda nos encontramos retroagindo, especialmente quando se tenta utilizar a mente e inteligência que Deus nos deu para pensar e propor alternativas que não apenas sejam bíblica e teológicamente viáveis, como também relevantes a atuais, levando em consideração nosso contexto, e não apesar dele (como se ainda vivêssemos de e no passado).Na últimas férias, enquanto lia "O Conceito de Angústia", de Sören Kierkegaard, escrito em 1844, deparei-me com uma simples e brilhante denúncia:
"Todo o problema da importância da sexualidade nos mais diversos domínios tem sido, até o presente, insuficientemente tratado e, sobretudo, raras vezes no tom justo. Produzir gracejos a este respeito não passa de uma arte bem miserável; fazer de censor, é demasiado fácil; extrair daqui sermões, passando por cima da dificuldade, não é menos doentio; mas falar sobre o problema de maneira verdadeiramente humana, eis o que constitui toda uma arte".
Nós, homens e mulheres, negros ou brancos, pobres ou ricos, religiosos ou não (embora esteja interessado em me reportar, nesse caso, principalmente aos evangélicos) precisamos urgentemente aprender essa arte da qual fala Kierkegaard. No momento, ainda estamos a quilômetros de distância disso... Mas quem sabe (e oxalá) o amanhã, apesar de todos nós, possa ser um novo dia (Chico Buarque). Luto e espero por esse novo dia, em que a liberdade de Deus possa de fato encontrar guarida em nosso ser, ainda imerso em extremismos de toda espécie.
Nos próximos posts, quero trazer algumas contribuições de autores que admiro sobre o tema da sexualidade. Continuem acompanhando, e vamos debater a respeito.
Jonathan