terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Sobre a religião e seus derivados (I)

Religião que seguem
No atual momento, vemos tomar corpo um movimento de pessoas que se dizem apaixonadas por Jesus, mas que não gostam mais da igreja, detestam as instituições em geral, e desenvolveram uma ojeriza pelo que chamam de “religião” – a meu ver, a religião institucionalizada. Estes estariam dentro dos 7,9% da pesquisa acima exposta. O mote de sua trajetória está no slogan: “Mais Jesus e menos religião”. O problema é que, nesse meio termo, apareceram outros apresentando outra visão de religião, mais positiva talvez, alegando que a religião faz parte da história humana desde sempre e tem oferecido contribuições importantes a ela. Em outras palavras, por mais que critiquemos a religião, não vivemos sem ela. Nesta discussão pouco criteriosa, termos como religião, religiosidade e espiritualidade acabam sendo utilizados de modo intercambiável, como se um fosse ou pudesse ser sinônimo para outro. E a confusão se vê armada. Podemos desatar este nó?

Em primeiro lugar, a discussão sobre as terminologias (religião, religiosidade, espiritualidade, etc.) é in-termi-nável. Todas são palavras polissêmicas, se considerarmos o diálogo interdisciplinar, ou mesmo o senso comum. Em segundo lugar, esse movimento (por um cristianismo não-religioso) não é novo. Já vimos isso no século XX, através de Karl Barth, e mais fortemente na teologia de Dietrich Bonhoeffer, na teologia secular (Cox) e da morte de Deus (Robinson e Cia), dentre outros.

A diferença para o que tenho visto atualmente é que esses últimos me parecem ter sido mais intencionais, proposicionais e consistentes (quer se concorde com eles ou não) no sentido de formular respostas relevantes aos problemas e movimentos de seu tempo, e não um flash mob de descontentes, como parece se apresentar grande parte do movimento atual. É preciso conferir mais coerência e conteúdo aos nossos descontentamentos.

No que diz respeito às terminologias, Tillich, por exemplo, falando sobre a clássica diferenciação entre religião e revelação em sua Teologia Sistemática, afirma que toda revelação pressupõe um receptor. E, considerando não haver receptor “puro” (isto é, livre da influência de sua cultura e da ideologia), e consequentemente nenhuma forma de fé, interpretação ou verdade universalmente válida, a recepção em si já é uma religião. Assim, o que Tillich chama de “religião” seria o processo de recepção e, por conseguinte, de significação da revelação. Nesta acepção, não há revelação sem religião e todos os que vivem conforme a revelação de Deus poderiam ser considerados religiosos.

Então, para começo de conversa, precisamos tentar entender qual religião esse movimento atual quer de menos, e qual Jesus ele quer de mais, para poder avançar no debate, não acham? Arriscar-me-ei, então, no próximo post a expor algumas impressões mais particulares sobre o tema. 

Jonathan

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. "Em outras palavras, por mais que critiquemos a religião, não vivemos sem ela." Será mesmo? Religião é parte constitutiva do ser humano?

    "Em segundo lugar, esse movimento (por um cristianismo não-religioso) não é novo. Já vimos isso no século XX" Vimos por teólogos, não por iniciativa popular. E justamente é esta a diferença proposta no seu texto. "É preciso conferir mais coerência e conteúdo aos nossos descontentamentos."

    Ivan Cordeiro

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  3. Caro Ivan,

    em relação ao primeiro questionamento, se você ler bem no texto são palavras minhas as que você cita, mas tentando dar voz a algo que não concordo inteiramente.

    Em relação ao segundo questionamento, respondo com outra questão: E quem foi que instituiu permanentemente a separação completa entre o que você chama de "iniciativa popular" e o trabalho teológico? A teologia do século XX, em parte, ajudou a protelar essa moderna clivagem. Quero crer que não precisa ser mais assim.

    Grato por sua intervenção.

    Jonathan

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