Perdemos o sentido da palavra liberdade – que há muito tem deixado de ser vocação – porque não compreendemos o valor do amor e do serviço à luz da experiência de Cristo. Não se trata, nesse ponto, de repudiar os atos de caridade e bondade existentes no mundo, nas organizações, ideologias e nos belos discursos sobre a necessidade de liberdade do ser humano e nas muitas iniciativas que caminham nesse sentido, mas de analisar criticamente em que medida esse amor e essa liberdade de que as pessoas, no presente, falam com tanto orgulho e entusiasmo, se assemelham com os ensinamentos e a prática de Jesus.
Temo que a liberdade ainda não tenha ultrapassado o nível do discurso em nossos tão conturbados dias. É um mero “acordo intelectual”, parafraseando Caio Fábio. Pode até existir como abstração da mente, mas ainda não entrou nas vísceras do ser humano. Os homens e mulheres de nosso tempo se contentam em apenas ter liberdade (em sentido estrito), e não em ser liberdade, partindo do pressuposto de que ela existe, na perspectiva de que Deus a criou, como vocação. Aceitar essa vocação, conforme observa Comblin (1996, p. 69), “é responder positivamente ao amor de Deus, dispor-se a ser capaz de ser amado e de amar. Esta resposta ao amor de Deus, que é a aceitação da vocação para a liberdade, é o que são Paulo chama a ‘fé’, e são João o ‘amor’, ou os evangelhos sinóticos a ‘conversão”.
Porém, os seres-do-hoje confundem amor com auto-realização, liberdade com egocentrismo e serviço com oportunismo. Valores como o altruísmo, por exemplo, são associados à falta de liberdade e não à conquista e/ou o exercício dessa. Nesse ínterim, ela deixou de ser chamamento, processo, conquista, ousadia, utopia e inventividade, passando a se resumir à tirania dos desejos, propiciação autocentrada, curtição efêmera, falta de compromisso, de engajamento, de ideais ou de santa inquietação com o hoje e com as vicissitudes do amanhã.
A vida cristã perde sua centelha revolucionária quando deixamos de acreditar e lutar pela liberdade, uma liberdade que não tem nada a ver com a mera satisfação imediatista de vontades, mas sim, com a esperança de ser livre na relação de amor com outros seres livres ou em busca dessa liberdade. Entretanto, é possível confundir a liberdade com o seu oposto, conforme lembra Paulo: “Que essa liberdade, porém, não se torne desculpa para vocês viverem satisfazendo os instintos egoístas. Pelo contrário, coloquem-se a serviço uns dos outros através do amor” (Gl 5:13).
Jonathan
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