Como você trataria a Deus se você tivesse acabado de perder uma filha, e da forma mais trágica possível: estupro e assassinato? Talvez nossa reação a uma tragédia como essas não seria diferente da de Mack, principal personagem desse fascinante, instigante e envolvente romance de William P. Young, “A Cabana” (Sextante, 2008). Aposto que a minha ou a sua reação estaria condicionada por nossas circunstâncias de vida, se de tristeza ou de alegria, de pranto ou riso, de vitória ou de derrota, de sucesso ou de fracasso, de ganho ou de perda. Esses duplos se misturam na dança da existência, e Deus, quer o reconheçamos, quer não, está no meio disso tudo.
Confesso que se olhasse para a capa do livro e para o fato de ter sido o primeiro lugar na lista dos mais vendidos do New York Times, não teria nem me interessado pela obra. O fato de ser um best-seller, mais depõe contra do que a favor de uma obra, de acordo com minha forma genérica de apreciação. Mas como foi uma indicação de um amigo, resolvi comprar e ler. E que grande aventura foi, para mim, a leitura dessa obra. Primeiro, pela maneira tocante e talentosa como o autor consegue escrever o enredo desse livro, prendendo sua atenção desde as primeiras páginas até as últimas. Segundo, por conseguir unir de forma tão competente o enredo e a reflexão, a ficção e a realidade, situações do cotidiano e a teologia, e por fazer perguntas que todos gostaríamos de fazer a Deus numa situação como a de Mack, mas que nem sempre temos coragem de fazer. Perguntas honestas a um Deus honesto.
Com essa fórmula eficaz, Young procura chamar atenção de seus leitores para uma imagem não-convencional de Deus; um Deus que não impede o sofrimento, mas sofre junto; um Deus que não está lá, em cima, distante, mas um Deus eterno-aqui-presente; um Deus que, em Jesus, “arregaçou as mangas” e “entrou no meio da bagunça”. Um Deus que se identificou com a humanidade, ao passo que se pode ver não Deus-na-humanidade, mas a humanidade-em-Deus: “Quando nós três penetramos na existência humana sob a forma do filho de Deus, nos tornamos totalmente humanos” (p. 89). Um Deus criador que, por amor, escolheu se limitar e perder, para honrar e facilitar o relacionamento com suas criaturas. Um Deus que não interfere deliberadamente nas escolhas e na liberdade de suas criaturas, mas que respeita o estágio em que cada um de nós se encontra, pois “a liberdade é um processo de crescimento” (p. 85); ao mesmo tempo em que já foi conquistada – “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou” (Gl 5.1) – ainda continua sendo conquistada à medida que aceitamos nossa “vocação para a liberdade”, o chamado de vivenciá-la pela graça, passo a passo, todos os dias. Como diz “Jesus”, em uma de suas ricas conversas com Mack:
“A religião usa a lei para ganhar força e controlar as pessoas de que precisa para sobreviver. Eu, ao contrário, dou a capacidade de reagir e sua reação é estar livre para amar e servir em todas as situações. Por isso, cada momento é diferente, único e maravilhoso. Como sou sua capacidade de reagir livremente, tenho de estar presente em vocês. Se eu simplesmente lhes desse uma responsabilidade, não teria de estar com vocês. A responsabilidade seria uma tarefa a realizar, uma obrigação a cumprir, algo para vencer ou fracassar”.
(William P. Young. A Cabana. Sextante: 2008, p. 191).
Tenho recomendado essa obra para quem posso. Recomendo a vocês, leitoras e leitores desse blog. Que tal começar o ano com “A Cabana”? Desejo que essa história possa enriquecer sua caminhada, ao lado das histórias de Jesus e da Bíblia.
Jonathan
3 comentários:
Postei sobre o livro na semana passada no meu blog tbm...mto bom! Superou minhas expectativas...principalmente as de ser mais um auto-ajuda!
Que engraçado...eu tive EXATAMENTE as mesmas "relutâncias" em ler o livro...se não fosse minha irmã insistir eu teria sido privada do melhor livro que li em 2008 e honestamente, estou na expectativa por algo que seja capaz de me tocar tão fundo este ano. Ah, propósito, causei uma polêmica enorme ao sair indicando o livro por aí...tem gente "cristã" dizendo que sou herege...rsrsrs
Você não foi confrontado nenhuma vez?
Um abraço, e muito bacana seu blog!
Polliana
http://minsk7.blogspot.com/
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