quarta-feira, 5 de março de 2008

Robinson Cavalcanti e os evangélicos

Eis, mais uma contribuição de Robinson Cavalcanti sobre o tema da sexualidade. Trata-se de um trecho do livro "Libertação e Sexualidade" (São Paulo, Temática Publicações, 1990). Apesar de ter sido escrito há um pouco mais de duas décadas, ainda é, em minha opinião, um dos únicos (senão o único) livros publicados em português que trata a questão de maneira aberta, ousada, bem fundamentada e, o que é melhor, sumariamente humana. Num artigo publicado em sua coluna na Ultimato em 2003, ele comentou sobre a reação ao livro e o tratamento do tema entre os protestantes:

"Nessa área, o protestantismo brasileiro, no geral, fez uma opção por uma pretensa “reta doutrina” (dogmatismo), que é um conjunto ideológico estático, em que entram claros princípios bíblicos misturados com visões culturais e de classe, fortemente influenciada pelo “cinturão da Bíblia” (“Bible belt”) norte-americano" (Ultimato, Edição 285, Novembro-Dezembro 2003).

Há uma patente resistência ao nome de Robinson em alguns círculos, não só pelas posturas que adotou no passado e as trincheiras que assumiu na coisas que escreveu, mas também pelas polêmicas envolvendo sua pessoa no presente, especialmente em sua relação com a Igreja Anglicana e as posturas que tem assumido frente a questão do homossexualismo. Há quem ache que seus posicionamentos atuais são uma negação do que ele havia escrito no passado. Ele mesmo, penso, jamais admitiria tal incoerência - o que particularmente não concordo, visto que o ser humano, queira ou não, é um paradoxo - e um exemplo disso está no artigo que escreveu em resposta ao professor, também anglicano, Eduardo B. Calvani, sob o título: Coerência evangélica na terra do frevo. Sua frase inicial: “Ao contrário de certas lideranças da República, não esqueçam o que escrevi”. O título do artigo escrito por Calvani, por sua vez, é : Deus e o Diabo na terra do frevo - o maniqueísmo retórico de Dom Robinson Cavalcanti.

Apesar de tudo, ainda penso que o pensamento de Robinson ainda é um das poucas iniciativas que fazem jus a uma teologia da sexualidade bíblica e saudável, frente a um protestantismo de "reta doutrina", estéril e irrelevante. Faço minhas as palavras desse autor abaixo colocadas:
"Essa “reta doutrina” é um tabu, de escassas implicações pastorais para a vida e os dramas de milhões de pessoas. O resultado é uma alienação entre o dogma, por um lado, e uma “clandestinidade erótica” dos cristãos, por outro, com previsíveis danos espirituais, éticos e emocionais. O neofundamentalismo e o liberalismo têm sido (até aqui) mais fortes. Paciência. Um dia a igreja evangélica brasileira terá a coragem e a sinceridade de enfrentar essa temática de forma desarmada e não-emocional".

Jonathan

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