Há uma estreita relação entre sexo e secularização. Entende-se “secularização” como o processo de emancipação do homem e do mundo do controle religioso ou semi-religioso que os jugulava. Os seres humanos da cidade secular aos poucos foram não se permitindo mais serem regidos por leis ou mitos sagrados, mas governam a si próprios, criando para si outros “mitos”, como o da autonomia, da liberdade, do consumo e do prazer. E o sexo torna-se um parceiro mais que natural nessa busca, como meio de auto-realização, poder, satisfação, auto-engano. De modo que o ser outra vez encontra-se sendo dirigido por uma espécie mais perniciosa de governo, a autocracia ou “governo do eu” – sendo este seduzido pela ditadura do gosto e do estético.
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Como afirma Harvey Cox em sua obra The Secular City, “a erosão dos valores tradicionais e o desaparecimento das modalidades aceitas de comportamento deixam os homens contemporâneos livres, mas um tanto sem direção”. A realidade retratada no filme Alpha Dog (2007) pode ser vista como um protótipo da vida a que se entrega boa parte dos jovens na cidade secular atualmente. Festas, tráfico e consumo de drogas, violência, sexo fácil, ‘livre’ e desimpedido, marcas típicas desse grande simulacro chamado universo urbano jovem.
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Essa é uma geração já posterior à geração que rompeu com os tabus da sociedade tradicional e religiosa. Entre eles estão os tabus sexuais. Segundo Cox, “nenhum aspecto da vida se agita com tantos demônios não exorcizados como o sexo”. E, numa sociedade onde o sexo tem sido explorado como nunca por todos os meios, em especial os de comunicação, “a subcultura jovem vem a ser o proletariado psicológico. É quem paga o pato de nossa hipocrisia”. Frente a tais realidades, tenho perguntas que não querem calar: até quando viveremos nessa dissimulação “evangélica” de que nada disso afeta ou diz respeito a “nossos” jovens? Até quando reproduziremos os mesmos discursos, tabus e ditos “absolutos”, que nada têm de biblicamente válidos, divinos ou saudáveis?
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Quando enxergo e penso nessa gritante realidade do jovem na cidade secular, e me deparo, em contrapartida, com a ausência de propostas inteligentes, honestas e, sobretudo, relevantes sobre o tema da sexualidade por parte dos cristãos, aliada a uma ligeira obsessão e certo medo de falar abertamente a respeito, francamente falando, batem um desânimo e uma vontade de deixar de lado toda essa ‘besteira’. Então, me lembro que Jesus não quis fundar uma nova religião, nem instituiu muitas das “leis” e costumes que devotamente se seguem até hoje, e isso me dá esperança – nem tudo está perdido. Faço minhas as palavras de Harvey Cox, uma novo-antiga e grata descoberta pra mim nesses dias:
-“Talvez um dia superemos nossa ridícula obsessão com o sexo, da qual nossa idéia fixa sobre castidade e virgindade é apenas outra face da moeda. Até chegarmos lá, deveríamos, contudo, nos alegrar pelo fato de que em Jesus Cristo somos libertados do mito e da lei”.
-Jonathan
2 comentários:
Gostei do texto Jon... vou baixar o filme para assistir.
Beijos
Negroso, assisti o filme esse fds...
Muito bom!!!
Enfim, lamento muito o fato do assunto "sexo" não ser discutido na igreja.
Na busca por santidade, algumas pessoas acham que vão ficar asexuadas... e esquecem que temos instinto e vontade.
Espero ver em um futuro bem proximo, sexualidade como tema da escola dominical.
E que o assunto posso ser discutido não apenas qnd um padre ou pastor abusam de uma criancinha, ou quando algum dos vários outros casos que acontecem venham ao púlpito, quer dizer, publico.
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