“Mas temos esse tesouro em vasos de barro, para mostrar que este poder que a tudo excede provém de Deus, e não de nós” (2Co 4.7).
Quando penso em tesouro duas imagens pelo menos me vem à mente: uma delas é a de uma caça ao tesouro, escondido em um baú nos recônditos de uma caverna escura e perigosa ou nas profundezas do mar; a outra é a dos cofres de segurança máxima, cheios de paredes de proteção especial, códigos e senhas quase intransponíveis.
As imagens são diferentes, mas têm algo em comum: em ambas o acesso ao tesouro é quase impossível, visto que há uma fortaleza protetora, imponente, complexa... A imagem de Paulo no texto acima é bem diferente. Ele fala de um “tesouro” (evangelho e a companhia do poder divino) em “vasos de barro” – que designa a nossa humanidade, que como o vaso vem do pó, é frágil, vulnerável e sempre sujeita à quebra.
Temos aqui então um contraste, uma dessas ironias divinas: o eterno poder, que não pode ser contido (do contrário, não seria eterno) escolhendo precisamente o que há de mais fraco e incerto para “se abrigar”. E a pergunta é: por quê? Paulo mesmo dá a resposta: é para mostrar que a excelência desse poder vem de Deus, e não da gente.
Trocando em miúdos: temos um tesouro (poder), mas esse tesouro não vem de nós, nem é para a nossa glória e nem nos faz triunfantes no mundo. Pelo contrário. Paulo segue afirmando nos versos seguintes que “em tudo” somos perplexos, atribulados, perseguidos, abatidos, embora não o bastante para sermos destruídos, desanimados, angustiados e totalmente desamparados.
Curioso, não? Esse poder, que não é nosso, não nos faz mais poderosos que ninguém, tampouco imunes ao sofrimento de qualquer ser humano – agregando ainda um sofrer de outra espécie, por ser cristão. Mesmo tendo um tesouro, nunca deixamos de ser simples vasos! E o vaso não existe para proteger a integridade do tesouro, mas é o tesouro que é oferecido para proteger a integridade do vaso, a despeito de suas eventuais “quebras”.
Não somos, portanto, defensores ou detentores do tesouro; ele não precisa de sentinelas ou guardiões, nem de Indiana Jones “gospel”; e não somos nós que resplandecemos, mas ele resplandece através de nós. O vaso não existe ainda para se transformado em cofre forte, mas existe para morrer: “Trazemos sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso corpo” (4.10).
Penso que o que Paulo está querendo aqui, dentre outras coisas, é nos convidando a rever nossa teologia do poder e reservar nela um lugar especial para a aceitação jubilosa da fraqueza. Somente quando assumirmos nossa fragilidade humana, o poder de Deus se aperfeiçoará em nós a fim de que participemos da transformação que o Espírito já vem realizando no mundo, muitas vezes sem a nossa “ajuda” pretensiosa.
Jonathan
(Imagem: "Fragility", by Dawne Olson)
PAZ E BEM....MUITO BOA COLOCAÇÃO SOBRE FRAGILIDADE..
ResponderExcluirESTOU TOMANDO A LIBERDADE DE PUBLICAR ALGUNS DE SEUS ARTIGOS NO ICONOCLASTAS..VLW PAZ
Fique à vontade, Sidney!
ResponderExcluirObrigado.
Jonathan