Escrevi um artigo há certo tempo, falando de modo resumido sobre Henri Nouwen como um modelo de vida e espiritualidade radicais, tratando um pouco de sua vida, formação, fatos marcantes de sua trajetória e pensamento (ler aqui). Não menos resumidamente, quero partilhar algo mais sobre Nouwen só que de um jeito mais pessoal – forma predominante em seus escritos. Como eu o enxergo? Por que me tornei tão fascinado por sua vida e escritos? Que coisas tenho aprendido com ele?
Quem foi Nouwen?
Usando uma expressão de Zygmunt Bauman, para mim Nouwen foi um “artista da vida”. Primeiramente porque ele foi alguém profundamente fascinado pela vida e pelas pessoas, pela conexão e pelos relacionamentos. Parte de sua veia artística está em ter conseguido pintar de modo tão brilhante, sensível e inspirador sua teia particular de relações com a vida e com Deus. Um resumo das coisas que Nouwen mais amava fazer pode ser encontrado, a meu ver, em suas próprias palavras no Diário de seu último ano sabático: “Escrever livros, fazer amigos, criar comunidade, partilhar histórias”.
Nouwen foi um santo-homem. Sua santidade estava não em feitos sobrenaturais, mas na forma íntegra com que efetuou as coisas mais naturais da vida – como amar, orar, sofrer, se alegrar, celebrar, morrer. Ele foi um pastor sensível e compassivo, atento a cada encontro e a singularidade de cada pessoa. Mas também foi um ministro vulnerável, ao ponto de escancarar sua vida, suas feridas e limitações de um modo às vezes até constrangedor pra quem o lê.
Foi um discípulo radical e apaixonado de/por Jesus. Extremamente consciente de sua dependência de Deus e da comunidade e também de seu inacabamento, nunca deixou de estar em busca, a caminho, ansioso por entender o que Deus queria para ele e para onde desejava conduzi-lo. A ele cabem as sábias palavras do frei Carlos Mesters: “A luz só se faz é na travessia e na escuridão”. O mais admirável é que tanto a luz quanto a escuridão de Nouwen serviram como canais de benção e de cura para muitas pessoas.
Por que Nouwen?
Em Nouwen descobri um modelo de espiritualidade não focado em performances para Deus, mas em vida, abertura e entrega. Uma vida baseada na honestidade, uma abertura besuntada de autenticidade, e uma entrega movida pelo amor e pela paixão de Cristo. Ele foi e continua sendo um modelo atual, pois conseguiu reunir em sua pessoa uma intelectualidade frutífera com o sentimento sincero, de quem vive intensamente tanto “por fora” quanto “por dentro”, e a experiência da orientação sábia junto com uma postura de constante quebrantamento diante de Deus e da vida. Sua existência foi um protesto contra o superficialismo e um rompimento com os dualismos perniciosos que se propagaram no cristianismo. Nele vejo o paradoxo belo de uma coerência desarmônica, de uma resiliência frágil e de uma melancolia esperançosa.
Jonathan
Eu tb aprecio muito seus escritos. Volta e meia volto para eles.
ResponderExcluir