Pela primeira vez, tive o privilégio de ver e ouvir o renomado escritor norte-americano Philip Yancey, na Livraria Cultura em São Paulo, na ocasião do lançamento de seu mais recente livro: “What Good is God? In search of a faith that matters” – que, na versão da Editora Mundo Cristão, ficou assim: “Para que serve Deus? Em busca da verdadeira fé”.
Já li alguns livros de Yancey, sendo “Alma Sobrevivente” (2004), para mim, o mais marcante e significativo de tantos que ele já escreveu. Foi interessante perceber como a habilidade narrativa do autor, ao contar histórias do cotidiano entremeadas por reflexão teológica, é uma marca não somente de sua maneira de escrever, como também de discursar. Curioso foi também notar a grande aceitação do público brasileiro para com este autor. Aceitação com relances de tietagem, visível no breve momento de interação com o autor, que se abreviou ainda mais em função da falta de objetividade dos “questionadores”, que questões não expressaram, senão apenas o desejo de externar seu entusiasmo de fãs.
Todavia, quero aqui chamar atenção para um detalhe mercadológico. O título do livro, se traduzido literalmente do original (e o original faz bem mais jus do que a sua versão), seria: “Quão bom é Deus? Em busca de uma fé relevante” (ou “que importa”). Segundo relatou o autor, com tantos questionamentos sobre a legitimidade da fé em Deus que o mundo tem feito, estupefato diante dessa era de catástrofes que temos presenciado, o livro é uma tentativa de responder a tais questionamentos, do lugar das experiências por ele vivenciadas em suas viagens ao redor do mundo como palestrante. A intenção, portanto, seria buscar um caminho de retorno a uma fé que tem importância em tais contextos – não essa com contornos quase dogmáticos (“da verdadeira fé”) que o subtítulo na tradução oferece.
Dessa forma, o título “Para que serve Deus?”, não apenas não parece condizer com o original – como boa parte dos livros traduzidos para o português por editoras como a Mundo Cristão – como instaura o que se poderia chamar de pragmatismo invertido. Ou seja, a pergunta “para que serve”, não vem de um autor norte-americano, como era de se esperar – já que são eles os que, por formação, mais tendem a pensar quase tudo em termos de “Para que serve” e “Como funciona” – mas de uma editora brasileira que, pela enésima vez, lança o livro de um norte-americano.
Moral da história: pelo jeito, aprendemos direitinho (com os norte-americanos, sobretudo) a pragmática lição de “como fazer vender” e “como produzir sucesso”, até mesmo quando a intenção original da obra e de seu autor parece ir em outra direção.
Jonathan
3 comentários:
Na realidade a melhor tradução da expressão "What Good Is God" é, de fato, "Para que serve Deus". A expressão idiomática "what good is ---?" pode também ser traduzida "Para que presta ---?" ou mesmo "--- é bom para quê?". O equivalente em inglês à sua sugestão "Quão bom é Deus?" seria "How Good Is God?" Enfim, procuramos honrar a intenção do Philip. Nenhum pragmatismo entrou na decisão de título; foi considerado apenas fidelidade ao original. Procuramos respeitar a inteligência dos nossos leitores.
engraçado, Jon, a sua 'tradução'(Quão bom é Deus) não foi a mesma que um dos executivos da MC (ou foi o tradutor - McAlister?)traduziu ao apresentar o Yancey?
Acho que o Carpenter não entendeu, ou fez vistas grossas, quanto ao que você quis dizer com pragmatismo.
Escrever é transgredir!
Em toda tradução há um dose tanto de interpretação como de traição, meus caro Roberas. E não há como absolutizar isso, graças a Deus...
Abraço,
Jon
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