domingo, 19 de setembro de 2010

Discurso da iniquidade à serviço da ideologia dominante: a posição de Marcos Monteiro

No crepúsculo das Eleições do ano de 2010, temos visto a emergência tardia, mas (in)oportuna (de certo modo e por suas próprias razões) de posicionamentos acerca da conjuntura política atual no Brasil. É sintomático: falar de política a cada dois ou quatro anos em função das agendas eleitorais (e eleitoreiras). Tudo bem, “antes tarde do que nunca”, diria o ditado, que endosso parcialmente.

O borbulhar desses posicionamentos entre os evangélicos se deu não por causa de Marina – a representante do segmento entre os postulantes à presidência – mas de um pronunciamento, veiculado em vídeo, feito pelo Pr. Paschoal Piragini Jr., da PIB de Curitiba, após 30 anos de omissão e supostamente fazendo coro à ideologia “crente não se mete em política”. Há algumas décadas esse princípio vem sendo subvertido, muitas vezes pelo lado negativo – corporativismo evangélico, escândalos políticos, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, participação em “mensalões” e “mensalinhos”, dentre outras coisas.

A recente discussão se dá em função de uma agenda legislativa, supostamente orquestrada pelo PT, em prol da aprovação de leis que defendem direitos em geral dos GLBTS (Gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e simpatizantes) e à favor da descriminalização do aborto. O referido posicionamento, se coloca não apenas contra a aprovação de tais projetos de lei (sobretudo o PLC 122/2006), como tenta induzir um grupo de fiéis a não votar no PT, sob pena de ter, como corolário, não só a possível aprovação de tais leis, mas o impedimento legal de cristãos em se posicionar contra a prática homossexual, com a instauração da chamada “iniqüidade institucionalizada” e, pós ela, a ira e juízo divinos caindo sobre nós (socorro!).

Há grupos, como eu disse, que têm se manifestado contrariamente não só a perspectiva ideológica encampada por Piragini e seus correligionários, mas também teológica – entendendo que a iniqüidade, enraizada no ser humano, avança sobre outras áreas da vida, e não somente a sexual, o que não só o vídeo parece ignorar, como boa parte dos posicionamentos públicos de evangélicos, que pouco têm a dizer sobre injustiças, miséria, violência, desigualdades, etc., fruto de um “pecado estrutural”, mas quando a coisa afeta a moral e os “bons costumes”, cá estão eles, prontos não somente para se levantarem contra, mas também para demonizar, exorcizar e mandar pro inferno, se preciso for, quem ao menos pense de modo diferente. "A Verdade" está do lado deles e, claramente (afinal, “tá na Palavra”), não pode estar com os demais, sobretudo com os “progressistas”, que são pintados como aliados do Diabo na luta pela implantação do comunismo – que coisa mais retrógrada e anacrônica!

O vídeo que quero endereçar aqui é fruto dos posicionamentos de primeira ordem – contra esse discurso da iniqüidade à serviço da ideologia dominante e em desserviço do reino, da liberdade de expressão, democracia e do diálogo aberto. Quem se posiciona é meu amigo e irmão, a quem admiro, pastor Marcos Monteiro. Quero não só parabenizá-lo por sua coragem e discernimento, como dizer que concordo com cada palavra que ele diz – exceto quando afirma que irá votar em Plínio, excelente candidato, diga-se de passagem, mas meu voto pessoal vai para Marina Silva. É um exercício público de sua racionalidade, um convite ao diálogo, e uma amostra de que nem tudo o que é evangélico no Brasil precisa ser alienado ou estar à serviço de um moralismo despolitizado, desinformado e ultrapassado. Faço minhas as palavras de Robinson Cavalcanti: "Um maniqueísmo histórico, não sincero, não verdadeiro, paranóico, não é uma boa forma de testemunho".

Valeu, Marcos! Peço que vejam o vídeo e estejam abertos a opinar – de preferência, respeitando quem pensa diferente.

Jonathan



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