"Pair of Shoes", de Vincent van Gogh, 1886. Um dos meus prediletos dele. Mais do que o retrato de um sapato velho e surrado, ela é a representação da estrada - 'só esse sapato sabe por onde caminhei e todos os conflitos que enfrentei' - e do estado de alma de seu dono, como também do próprio pintor. Entre 1886-1888, durante seu tempo em Paris, Van Gogh pintou vários quadros de sapatos. Em 1888, escrevendo ao seu irmão, Theo, ele revelou um pouco do que havia por trás de sua arte-vida àquela altura:
"Às vezes me sinto muito fraco para lutar contra as circunstâncias existentes, e eu deveria ser mais rico, inteligente e jovem para vencê-las. Felizmente para mim, eu não mais anseio pela vitória, e tudo o que eu busco é que a pintura seja um meio de tornar a vida mais suportável" [tradução minha, veja mais em: http://blog.vangoghgallery.com/].
Henri Nouwen inspirou-se muito em seu conterrâneo holandês em seus escritos sobre espiritualidade. Precisamente porque Van Gogh, além de um artista brilhante (embora não reconhecido em seu tempo), foi homem sensível, sofrido, humano e que nunca escondeu suas sombras nem seu lado trágico de ninguém; pelo contrário, elas sempre estiveram lá, bem expostas em sua arte e em sua própria história. Isso para mim tem um nome: integridade, peça rara em nossos dias.
Van Gogh lutou muito, mas não suportou o peso da batalha. Suicidou-se em 29 de julho de 1890, aos 37 anos. Sofria de uma doença psíquica grave, semelhante ao transtorno bipolar do humor, hoje bastante conhecido. Não tenho o direito de julgá-lo, nem a ninguém em condições semelhantes. A vida é um mistério insondável. Cada um sabe bem dos fardos, dores e limitações que carrega (mesmo que prefira sublimar). Por isso, nela não cabem respostas fáceis, nem soluções paliativas. A vida foi feita pra ser vivida, e só há uma para se viver; seus paradoxos existem para ser encarados; sua finitude deve ser jubilosamente assumida, e não negada. A realidade do conselho de Paulo, o apóstolo, deve continuar a saltar aos olhos de quem sabe, mesmo que minimamente, de si: aquele que pensa estar de pé, cuide para que não caia.
Cuidemos de nós, cuidemos das pessoas, sabendo que a iminência da queda é proporcional a iminência da vida.
Jonathan
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