Assistir (mesmo que de
passagem) esse início de cobertura da Copa das Confederações 2013 na Rede Globo pode
dar a estranha experiência e sensação de que existem vários países "em
campo":
1. Dos que vestem a camisa
milionária da seleção e pisam nos campos bilionários da bola (mas estão
"cagando e andando" pro Brasil);
2. Dos que batem palma pra grande
cobertura multi-tecno-digital da todo-poderosa, que, por sua vez, só noticia
aquilo que, e do modo como, convém (afinal, o maior interesse é manter acesa a
paixão dos brasileiros na seleção, os olhos bem fechados para todo o resto,
para que o bolso dela, Globo, e de seus investidores, se mantenham bem cheios
de $);
3. O país minúsculo dos que
protestam – usando importante questão do problema do transporte em São Paulo e
no Brasil (mas que é só, como se diz, “a ponta do Iceberg”) – contra o descaso
do governo, as múltiplas e generalizadas injustiças sociais e o abismo entre o
país dos "descamisados" e o dos alienados, que "vestem a
camisa" com muito orgulho de ser brasileiro, a despeito do que acontece no
Brasil;
4. O país dos indiferentes, que não
estão nem aí para uma coisa e nem outra, mas que assistem tudo de camarote como
se nada disso “lhes representasse” ou dissesse respeito;
5. O pequeno país dos mandatários
do poder político-econômico, que literalmente fazem a "máquina girar"
(para o bem e para o mal), e que precisam continuar fazer a caravana prosseguir
enquanto "os cães ladram", mas "não mordem" (mesmo que
passando como rolo compressor sobre os direitos e reivindicações dos cidadãos e
cidadãs, e usando a violência e repressão quando preciso);
6. O grande país dos bestializados (usando aqui, não
pejorativamente, a metáfora de José Murilo de Carvalho), que assistem ou não a
tudo isso meio tontos, sem saber bem o que dizer, o que fazer, para onde ir,
que posição tomar, afinal, antes de tudo, precisam mesmo é sobreviver;
7. E assim por diante... [inclua
aqui o que faltou, pois muito sempre falta para possivelmente descrever ou
analisar situações tão complexas]. Como diria Carlinhos Veiga, há muitos
"Brasis" dentro do Brasil. E é realmente uma pena que ignoremos tanto
essa múltipla e complexa realidade, que continuemos parados, estacionados, de
braços cruzados, "só orando", só lamentando, só escrevendo na timeline do Facebook. Bem disse Gabriel O Pensador: "Até quando a gente
vai levando porrada, porrada", e vamos ficar sem fazer nada? Bem,
certamente tem gente fazendo alguma coisa, fazendo o que pode, fazendo o
possível para simplesmente não viver conformado com o que aí está posto ou in-posto. Seja o que for, um processo de
descoberta, em meio a esse pandemônio, é necessário: do que significa ser
"cidadãos e cidadãs brasileiros"! Mais que apenas geradores ou
apoiadores de protesto, apenas torcedores, apenas céticos, apenas consumidores,
apenas isso ou aquilo... precisamos utilizar momentos como esse como
oportunidades para discutir um projeto ainda em construção: o que implica e de
que jeito podemos ser, mais assertivamente, cidadãos e cidadãs!
Admito certa indecidibilidade
a respeito da cidadania no mundo "líquido-moderno" (Bauman), mas
estou tentando compreender e, enquanto isso, fazer o que posso. Só não dá pra
sentar na poltrona, sintonizar na Globo, curtir a fabulosa transmissão, mesmo
que sem grande empolgação pela seleção, e fingir que nada está acontecendo.
Comida é coisa boa; diversão e circo também; só não dá pra "bater palma
pra palhaço" enquanto a grande tenda está literalmente em chamas, e vendo
a platéia pegando fogo. Viver,
já diria Robinson Cavalcanti, é
tomar partido... E que Deus nos ajude e nos conscientize bem ao tomarmos o
nosso, pois Ele, certamente, já tomou o Dele e deixou claro o que Ele quer de
nós. Vale a pena que lembremos outra vez do profeta Amós (5:24):
Alguém aí sabe o
que eu quero? Eu quero justiça – um mar de justiça. Eu quero integridade – rios
de integridade. É isso que eu quero. Isso é tudo que eu quero...
Jonathan
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