segunda-feira, 17 de junho de 2013

Afinal, que país é esse mesmo?

Assistir (mesmo que de passagem) esse início de cobertura da Copa das Confederações 2013 na Rede Globo pode dar a estranha experiência e sensação de que existem vários países "em campo": 
1. Dos que vestem a camisa milionária da seleção e pisam nos campos bilionários da bola (mas estão "cagando e andando" pro Brasil); 
2. Dos que batem palma pra grande cobertura multi-tecno-digital da todo-poderosa, que, por sua vez, só noticia aquilo que, e do modo como, convém (afinal, o maior interesse é manter acesa a paixão dos brasileiros na seleção, os olhos bem fechados para todo o resto, para que o bolso dela, Globo, e de seus investidores, se mantenham bem cheios de $); 
3. O país minúsculo dos que protestam – usando importante questão do problema do transporte em São Paulo e no Brasil (mas que é só, como se diz, “a ponta do Iceberg”) – contra o descaso do governo, as múltiplas e generalizadas injustiças sociais e o abismo entre o país dos "descamisados" e o dos alienados, que "vestem a camisa" com muito orgulho de ser brasileiro, a despeito do que acontece no Brasil; 
4. O país dos indiferentes, que não estão nem aí para uma coisa e nem outra, mas que assistem tudo de camarote como se nada disso “lhes representasse” ou dissesse respeito; 
5. O pequeno país dos mandatários do poder político-econômico, que literalmente fazem a "máquina girar" (para o bem e para o mal), e que precisam continuar fazer a caravana prosseguir enquanto "os cães ladram", mas "não mordem" (mesmo que passando como rolo compressor sobre os direitos e reivindicações dos cidadãos e cidadãs, e usando a violência e repressão quando preciso); 
6. O grande país dos bestializados (usando aqui, não pejorativamente, a metáfora de José Murilo de Carvalho), que assistem ou não a tudo isso meio tontos, sem saber bem o que dizer, o que fazer, para onde ir, que posição tomar, afinal, antes de tudo, precisam mesmo é sobreviver; 
7. E assim por diante... [inclua aqui o que faltou, pois muito sempre falta para possivelmente descrever ou analisar situações tão complexas]. Como diria Carlinhos Veiga, há muitos "Brasis" dentro do Brasil. E é realmente uma pena que ignoremos tanto essa múltipla e complexa realidade, que continuemos parados, estacionados, de braços cruzados, "só orando", só lamentando, só escrevendo na timeline do Facebook. Bem disse Gabriel O Pensador: "Até quando a gente vai levando porrada, porrada", e vamos ficar sem fazer nada? Bem, certamente tem gente fazendo alguma coisa, fazendo o que pode, fazendo o possível para simplesmente não viver conformado com o que aí está posto ou in-posto. Seja o que for, um processo de descoberta, em meio a esse pandemônio, é necessário: do que significa ser "cidadãos e cidadãs brasileiros"! Mais que apenas geradores ou apoiadores de protesto, apenas torcedores, apenas céticos, apenas consumidores, apenas isso ou aquilo... precisamos utilizar momentos como esse como oportunidades para discutir um projeto ainda em construção: o que implica e de que jeito podemos ser, mais assertivamente, cidadãos e cidadãs! 
Admito certa indecidibilidade a respeito da cidadania no mundo "líquido-moderno" (Bauman), mas estou tentando compreender e, enquanto isso, fazer o que posso. Só não dá pra sentar na poltrona, sintonizar na Globo, curtir a fabulosa transmissão, mesmo que sem grande empolgação pela seleção, e fingir que nada está acontecendo. Comida é coisa boa; diversão e circo também; só não dá pra "bater palma pra palhaço" enquanto a grande tenda está literalmente em chamas, e vendo a platéia pegando fogo. Viver, já diria Robinson Cavalcanti, é tomar partido... E que Deus nos ajude e nos conscientize bem ao tomarmos o nosso, pois Ele, certamente, já tomou o Dele e deixou claro o que Ele quer de nós. Vale a pena que lembremos outra vez do profeta Amós (5:24):
Alguém aí sabe o que eu quero? Eu quero justiça – um mar de justiça. Eu quero integridade – rios de integridade. É isso que eu quero. Isso é tudo que eu quero...

Jonathan

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