A religião e seus ritos sem substância
Quero iniciar este ensaio – uma provocação bíblica contra um modo de ser próprio no mundo, que estou chamando de “religião da hipocrisia” – com a frase introdutória de Eugene Peterson, em sua tradução da bíblia, A Mensagem, ao livro de Amós:
Mais pessoas são exploradas ou agredidas por causa da religião que por qualquer outro motivo. Sexo, dinheiro e poder cedem lugar à religião como principal motivo de ações maldosas. No momento em que uma pessoa (ou governo, ou religiões, ou organização) se convence de que Deus está ordenando ou aprovando uma causa, vale qualquer coisa. A história de ódio, assassinatos e opressão alimentados pela religião cresce em ritmo acelerado no mundo inteiro. Os profetas bíblicos estão na linha de frente dos que fazem alguma coisa a respeito disso (Peterson, In: “A Mensagem”, p. 1282).
Não tem alguma coisa fora dos eixos quando uma religião, que prega vida, amor (a Deus e ao próximo) e justiça, se degenere, na prática, em violência, exploração e injustiça? Como e por que isso acontece? E o que Deus pensa disso tudo? Amós, no textos que aqui pretendo abordar e em todo o seu livro, nos ajuda a entender...
Primeiro, ele nos mostra, ao londo de seu livro, que nem tudo o que leva o nome de Deus (em nosso caso de “cristão”, “católico”, “protestante” ou “evangélico”) representa e adora, em verdade, a Deus.
Segundo, ele demonstra que certos atos religiosos se traduzem em fazer coisas “para Deus”, mas, no fundo, são cultos de si e para si mesmo. Isto fica evidente no capítulo 4, verso 5 (NVI): “Queimem pão fermentado como oferta de gratidão e proclamem em toda parte suas ofertas voluntárias; anunciem-nas, israelitas, pois é isso que vocês gostam de fazer”. Ora, o culto era uma cerimônia pública. Mas o ato, de “proclamar” e “anunciar” as ofertas, indica autogratificação e não gratidão a Deus. Não é à toa que Jesus, no Sermão do Monte, defende que aquilo que a mão direita faz, a esquerda não precisa saber, referindo-se, porém, ao “dar esmolas” (Mt 6.3).
Em outras palavras, não é preciso “tocar a trombeta” ou fazer um teatro todas as vezes que se realiza um bem, sobretudo, porque é para Deus que se está fazendo. Por isso, Jesus no mesmo sermão, acerca da oração, afirma que não devemos agir como os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, que fazem de suas orações um show particular a fim de serem notados; antes, que se procure um lugar quieto e secreto a fim de não representar nenhum papel diante de Deus (Mt 6.5-6). É uma vida de integridade atuando contra uma religião da hipocrisia.
Terceiro, vemos ainda que a religião nos faz ter Deus nos lábios e na mente, mas não produzem necessariamente “fome de Deus” (3.6). Assim Amós denuncia: “vocês falam do Eterno... como se ele fosse seu melhor amigo. Então vivam de acordo com isso, e talvez isso venha a acontecer” (5.14 – TAM).
(Continua…)
Jonathan
otima reflexão.
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