Gerações vêm e gerações vão, mas a terra permanece para sempre. O sol se levanta e o sol se põe, e depressa volta ao lugar de onde se levanta. (...) O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará novamente; não há nada novo debaixo do sol. Haverá algo de que se possa dizer: “Veja! Isto é novo!”? Não! Já existiu há muito tempo, bem antes da nossa época. Ninguém se lembra dos que viveram na antiguidade, e aqueles que ainda virão tampouco serão lembrados pelos que vierem depois deles. (Eclesiastes 1.4-5, 9-11).
A eterna mesmice, o encontro com o mesmo, ainda que diferente. É sobre isto que o autor de Eclesiastes está escrevendo neste início, sobre a monótona repetibilidade da existência humana. A atividade humana, por mais que aos olhos do historiador seja mutável, à medida que não se faz, nem se pensa, nem se cultiva "hoje" exatamente os mesmos valores das civilizações e grupos humanos de antigamente, permanece sendo “atividade humana” e jamais deixará de ser. Somos cativos de nossa humanidade.
A pergunta é: como manter nosso interesse no olhar para a história diante da declaração de que “não há nada de novo debaixo do sol”? Ou de que ninguém se lembra do que foi, nem se lembrará do que está sendo?
É possível se interessar pela história precisamente porque ela é história dos seres humanos, nos ajuda a entender o que o humano faz e como faz e a nos encontrar com nossa identidade humana – e, assim, como se diz, nada do que é humano nos pode ser estranho.
Fazer história é, portanto, aceitar este paradoxo: do encontro com os traços de repetibilidade do DNA humano na história (identidade) e, ao mesmo tempo, dos desencontros, das incertezas, da imprevisibilidade, das rupturas (diferença), que fazem da história uma mesmice humana no tempo, mas que também pode ser humanamente fascinante! Inglória é a tarefa de sobre isto falar, sem que a fala por si mesma incorra no paradoxo.
Jonathan
2 comentários:
Ótimo irmão, eclesiastes também me trás algumas reflexões bastantes interessantes, mas confesso que na maioria das vezes fico um pouco frustrado quando o leio.
Caro Gilson, concordo com você. Eclesiastes é capaz de fazer a gente se sentir mal com o que lê e frustrado. Ao mesmo tempo, aprendi a gostar do livro, e mesmo do incômodo que ele me gera. Tornou-se uma boa frustração. Por exemplo: quando ele diz que "pensar dói", pois quanto mais aumenta o saber, maior o sofrimento, minha reação não é dizer: "OK, deixarei de lado esse negócio de querer saber e me renderei a ignorância". Não! Escolho saber e sofrer, a não saber e "ser feliz". Gosto de Eclesiastes, porque sua denuncia sobre as coisas sem sentido da vida, me ajudam a reencontrar o sentido, e a esperança em meio ao desespero.
Abraço!
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