Fico muito grato por seu comentário ao meu último post. Creio que você explicou melhor que eu. O uso da expressão “how” se encaixaria melhor mesmo em “quão” (se fosse o caso). Também acredito que vocês possam ter tentado honrar a intenção de Philip Yancey – embora esse negócio de perscrutar a intenção de alguém seja relativo à sua própria interpretação, e não possa ser equivalente à intenção original em si. Há outras obras, como a citada “Alma sobrevivente”, em que vocês se mantiveram mais fiéis à intenção explícita do autor, pelo menos em minha rasa percepção.
Contudo, como eu disse, ela “parece” (e como nem tudo que parece, é...) ter seguido noutra direção, que é a de ressaltar Que Deus “bom” é esse (no sentido de dar vazão aos questionamentos sobre a bondade de Deus mesma, e não se Ele “serve” ou não), e, como contrapartida, que fé (cristã?) pode ser relevante hoje. Mantenho minha posição reticente quanto ao uso das expressões “serve” e “verdadeira”, e conheço pouco, mas o suficiente, de literatura cristã, inclusive das que vocês têm publicado ao longo desses 45 bem-sucedidos anos de vossa existência, para saber que, embora possa haver interesse em respeitar a intenção do autor e a “inteligência do leitor”, igualmente inteligente é a estratégia de privilegiar o mercado.
Reconheço, nenhuma editora pode ser grande como é a Mundo Cristão hoje no Brasil sem levá-lo em consideração. Mas você há de considerar, igualmente, que não é possível manter a fidelidade a certo prospecto ideológico (formativo, consciente, crítico e teologicamente equilibrado) trabalhando em função das tendências de mercado – sem aqui querer demonizá-lo nem desconsiderar sua importância. Apenas creio que, assim como globalização e pós-modernidade são expressões idiomáticas e conceituais que tentam dar conta desse tempo em que estamos vivendo para que mantenhamos uma relação crítico-construtiva (de inserção parcial e também de suspeita) com a cultura , o mesmo pode se dizer do mercado, expressão que quer dar conta de tanta coisa ao mesmo tempo, tornando-se reducionista às vezes e com a qual (ou com o qual) precisamos manter a mesma relação crítica suspiciosa.
Ademais, o que vocês fizeram com livros como o “Corra com os cavalos” (antiga edição da Ultimato e Textus) para mim, também é um exemplo de pragmatismo, que visa mais atender as demandas de um tipo de público do que necessariamente a fidelidade ao “original”. Uma coisa é atualizar o livro. Outra, bem diferente, é atualizá-lo à luz de um apelo comercial. E isso não só vocês fazem, a maioria das editoras faz, e não é de hoje. Um leitor um pouco mais atento – e não precisa ser tão inteligente assim – saca isso rapidinho.
Leio e aprecio os livros de vocês e continuarei lendo, apreciando e recomendando. Mas creio que, como editora, vocês precisam não apenas de leitores “tietes”, ávidos pelos produtos (dentre os mais variados) que vocês oferecem ou as demandas que atendem (e criam), que aplaudem e concordam com absolutamente TUDO o que vocês fazem, desde as escolhas de autores, seleção para publicações e decisões editoriais menores, mas também de leitores que sejam parceiros críticos, entendendo que a apreciação pura e simples sem a crítica não produz crescimento, a não ser o do ego. Falo como alguém que tem, a duras penas, tentado aprender essa lição...
Respeitosamente,
Jonathan
Concordo com praticamente tudo que você escreveu. Inclusive com sua sugestão de que os leitores críticos podem fazer mais bem à editora do que aqueles que só elogiam. Estou em Londres, finalizando minha participação num seminário para editores cristãos da Europa central e oriental. O tema do congresso (escolhido por eles): Como maximizar o mercado em tempos de crise e mudança. Até entre esses editores -- gente séria e talentosa editando livros para mercados minúsculos -- há uma preocupação enorme em aumentar a atratividade comercial dos livros para venderem mais exemplares e assim sobreviverem financeiramente. Eles compreendem que é necessário estarem atentos às intenções dos autores mas, ao mesmo tempo, produzirem livros que chamem a atenção dos leitores. Trata-se de uma tensão natural que se intensifica quando o livro contém pouco apelo intrínseco. Para eles, como também para nós, há sempre o desejo de vender muitos livros, quanto mais melhor, para assim evitar a desgraça.
ResponderExcluirProcuramos, com graus variados de sucesso, manter como prioridade um de nossos valores fundamentais: "a ética cristã em todas as operações e práticas". Isto vale inclusive para a escolha dos títulos dos livros. Não somos perfeitos, mas não abrimos mão de ter a excelência como alvo constante, em todos os departamentos da editora. De vez em quando acertamos o alvo, outras vezes falhamos. Fazemos de tudo para manter a boa vontade e a compreensão dos nossos leitores, sem os quais fecharíamos as portas. Fazemos o possível para serví-los bem, com atenção especial e redobrada àqueles que sabem a diferença entre o excelente e o menos-que-ideal.
Obrigado pelo espírito de sua resposta. Desejo continuar merecendo sua confiança.
Prezado Mark,
ResponderExcluirfico feliz em receber como resposta sua honestidade e franqueza.
Foi um prazer travar esse diálogo aberto.
Cordialmente,
Jonathan