Uma análise que se quer “neutra” da polaridade exposta pela matéria foi a do sociólogo Ricardo Mariano, que, comparando o tipo de “apelo” da proposta em questão com a das igrejas neopentecostais, afirmou: “O destino desses líderes será ‘pescar no aquário’, atraindo insatisfeitos vindos de outras igrejas, ou continuar falando para meia dúzia de pessoas” (p. 91). Sobre a questão de “pescar no aquário”, creio que a visão é um pouco reducionista, porém não de todo equívoca, já que muitos “decepcionados” com a igreja acabam se reencontrando em estilos de comunidade de fé como os citados na matéria.
Mas o recado parece claro quanto ao falar desses líderes para “meia dúzia de pessoas”: excetuando Rosique e algumas das expressões “emergentes”, como a Caverna de Adulão – que têm uma proposta prática ligeiramente diferente – a abordagem desses “pensadores” tem conseguido atingir um grupo reduzido e elitizado de pessoas. E, acrescento, sua postura não sugere que haja um grande incômodo da parte deles em relação a isso, pois estes parecem reconhecer que há toda uma conjuntura que justifica esse aparente “insucesso popular”. A própria proposta da Missão Integral, a qual a maioria dos entrevistados afirma abraçar, tende a caminhar à margem do grande público evangélico – para o bem ou para o mal.
Por fim, se há uma mudança de fato em marcha na igreja evangélica brasileira, não compartilho das mesmas convicções da matéria – isso significa que não tenho tanta certeza assim – em pelo menos dois pontos: (1º) de que ela é “nova”, pelas razões já mencionadas, de que se trata de uma “reforma”, pois, se esse é o nome, pouco se verá em termos de “mudanças” efetivamente, e de que será apenas “protestante”, visto que a transformação promovida pelo Evangelho tem dimensões mais amplas do que as expressões do protestantismo hoje podem conter (Rosique e sua trupe são um exemplo disso); e (2º) em complementação à idéia anterior, de que ela se restringe às configurações de cristianismo vislumbradas pelo autor da matéria. Se há uma mudança em marcha, ela é bem menos previsível do que imaginamos, e não necessariamente terá quórum, visibilidade ou fará “estardalhaços”, alcançando mídia e projeções outras.
Se aquilo que Jesus disse sobre o reino de Deus é verdade, e eu creio que é, de que o reino pode ser comparado ao grão de mostarda, ao homem que saiu a semear, dentre outras imagens; de que nele terão precedência as crianças e os bem-aventurados do Sermão do Monte, em sua dependência pueril de Deus, as prostitutas, os publicanos, os “pequeninos” e outras pessoas semelhantes ao invés dos religiosos de cabedal, então a revolução em marcha (visto que o Espírito não cessa de soprar e trabalhar) virá de onde menos esperamos, das maneiras mais inusitadas e talvez pouco “espetaculosas”. As palavras de Jesus parecem anunciar um reino que coloca os valores e probabilidades de uma cultura ou religião “de ponta cabeça”, e brota da ação de gente que a gente nem imagina que Deus possa estar usando na qualidade de “vinho novo” do Evangelho, perto ou longe de nossos olhos, dentro ou fora da Igreja Protestante ou Evangélica.
“Naquela ocasião Jesus disse: ‘Eu te louvo, Pai, Senhor dos céus e da terra, porque escondeste estas coisas dos sábios e cultos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, pois assim foi do teu agrado” (Mt 11.25).
Jonathan
Legal seu ponto de vista, acho que é por ai mesmo, mas é importante destacar que essa "nova" reforma quem propõe é a revista, nenhum deles falou sobre reforma. Até porque o lema da reforma é estar sempre reformando. Acredito que é de grande importância valorizar essa espaço em uma revista como a Época.
ResponderExcluirAbraços
Tiago
Há dois domingos atrás, uma dessas igrejas que você critica estarem "pescando no aquário" batizou cerca de 50 pessoas novas na fé. É a média de pessoas que têm sido alcançadas pelo evangelho a cada semestre...
ResponderExcluirComo o Thiago ressaltou acima, os líderes citados além de não se entitularem novos reformadores, também não se acham "pensadores". O que eles tiveram foi a coragem de romper com certas tradições e procurar adaptar sua linguagem de modo que as pessoas pudessem realmente "entender" a mensagem do Evangelho de Cristo que, sim, atinge os pobres, marginalizados, mas também os ricos publicanos.
Abraços
Prezados Tiago e Sonia,
ResponderExcluirgrato pelos comentários de vocês. Primeiramente, reconheço que nenhum deles falou sobre reforma (exceto Ricardo Gouvêa), por isso minha crítica, entendo, se dirige à matéria em si. Segundo, não critico essas igrejas por estarem "pescando no aquário". Apenas estou citando quem fala isso (Ricardo Mariano) e em seguida afirmo que, sobre a questão de “pescar no aquário”, creio que a visão é um pouco reducionista (releia essa parte). Não faço esse tipo de julgamento que você sugere, só para esclarecer.
E que Deus abençoe os novos 50 convertidos e a igreja de vocês.
Fraternalmente,
Jonathan
JOnathan, bom estar acompanhando o seu blog... Lê-lo é quase tão bom quanto vê-lo... Um grande abraço e vamos continuar pelos caminhos da vida...
ResponderExcluirCaro Amigo Marcos, saudades de você cara, e dos nossos papos de boa e bela transgressão. Tua caminhada e exemplo me inspiram, você sabe disso. Não é a toa que te coloquei entre os "transgressores, gente que me influencia", no blog. Que o Senhor continue te usando ricamente, e que faça nossos caminhos se cruzarem de novo um dia desses.
ResponderExcluirAbração.
Jonathan
Não sei me analisar, Jonathan, mas gosto muito de algumas coisas que vejo por aí... Estive agora em Chã Preta e é impressionante o que o Pr. Adriano conhece e realizou por lá... A comunidade de fé continua pequena...o que é pequeno e o que é grande??? ... ainda não sei... Só vi uma pessoa que conhece todo o mundo de uma pequena cidade do interior, jovem, posicionado do lado do povo, ameaçado de morte, respeitado até por adversários... e muito amado por muita gente da cidade... O que é isso?... Pequeno? grande? não sei mais... Um abraço.
ResponderExcluirParece que, em nosso meio, acostumou-se demais medir "grandeza" com a suntuosidade dos templos e os resultados visíveis em números e não em presença transformadora - por mais difícil que seja também medir "níveis de transformação". Me dá esperança, caro Marcos, ver e ouvir exemplos como o do Pr. Adriano. Me lembra o que Jesus falava sobre o reino: que seria como o "grão de mostarda", ou como "um homem que saiu a semear".
ResponderExcluirQue Ele nos ajude a semear essa esperança...
Abs,
Jonathan