segunda-feira, 3 de maio de 2010

Entrevista: "O jovem na liderança"

ENTREVISTA*
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Bom Líder - Você acredita que o jovem tem capacidade para liderar?
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Jonathan Menezes - É complicado se colocar na posição de líder quando ainda se é relativamente jovem. Lamentavelmente, ainda há uma certa desconfiança, tanto na igreja como na sociedade, em relação às capacidades e responsabilidades de um jovem, principalmente quando esse jovem torna-se um líder. Como diz uma canção da banda Charlie Brown Jr., “o jovem no Brasil nunca é levado a sério”. Muitas barreiras ainda precisam ser rompidas no sentido da eliminação desse tipo de preconceito. Porém, temos que reconhecer, há também no jovem uma postura de rebeldia em relação ao mundo que o rodeia. Existe um velho ditado que diz: “se conselho fosse bom ninguém daria, mas, sim, venderia”. Isso pode ser verdade tanto para jovens, como pra quem se acha “bom demais” pra receber qualquer conselho, ou que já tenha vivido o bastante pra não ter que aprender coisas novas com outras pessoas no meio do caminho.
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Bom Líder - Os conselhos e experiências de outras pessoas são importantes para quem está liderando. Será que os jovens não gostam de ouvir conselhos?
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Jonathan Menezes - Conheço pessoas assim, jovens que fazem disso – do desinteresse de ouvir conselhos – um lema de vida, e às vezes eu também me porto dessa maneira, querendo escutar apenas a mim mesmo, desconsiderando a palavra e conhecimento dos outros (“mais experientes”). A caminhada de um jovem líder cristão, em meio aos conflitos inerentes à juventude e aos dilemas de nosso tempo, porém, requer um pouco mais de humildade e clareza no trato com outras pessoas e com Deus. Não gostar de ouvir conselhos, não significa que eles não sejam importantes. Ouvir é uma habilidade tanto, ou mais importante, quanto o falar. Só falará com sabedoria o líder jovem, que antes, aprender a ouvir com atenção “os conselhos” que as pessoas e a própria vida que pulsa a seu redor lhes dão.
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Bom Líder - Um dos grandes desafios na liderança é a coerência entre discurso e prática. Como o jovem, em meio aos conflitos inerentes à juventude, deve lidar com isso?
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Jonathan Menezes - Não atente tanto para o que se diz, mas especialmente para o que se faz. Coerência não se evidencia só com o discurso, mas com ações que legitimam esse discurso. Todavia, vale ressaltar que cuidar da coerência não significa negar nossas idiossincrasias. A coerência na vida de um líder não é resultado de uma corrente determinista de ações programáticas marcadas por um preciosismo orgulhoso, mas é fruto da sensatez e honestidade de quem um dia já conheceu e reconheceu as incoerências de seu ser, sem negá-las, mas procurou aprender com elas. Planejar é preciso. Mas aceitar que nossos planejamentos não dão conta ou não abarcam a realidade, também, é uma qualidade (não resignação) a ser cultivada por jovens líderes que, desde já, desejam aprender a ser mais humanos.
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Bom Líder - Até porque não somos o tempo todo coerentes.
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Jonathan Menezes - Sem dúvida. Henri Nouwen escreveu que não há reação mais danosa à nossa juventude do que a tendência de sublimar ou tentar esconder o “outro lado”, o lado “obscuro” das coisas próprias de um jovem, de “queimar etapas” do amadurecimento, na tentativa de nos mostrarmos perfeitos aos outros, “mais espirituais”, sem defeitos e sacrossantos. A integridade, não o integrismo, deve ser a marca do amadurecimento para os jovens líderes de nosso tempo. Sem essa percepção do líder, desde a juventude, sobre si mesmo como sendo um ser humano decadente, o inevitável encontro com a Graça capacitadora de Deus nunca assumirá seu inseparável significado, tão pouco terá valor; nem será marcado por real compaixão o encontro com seus semelhantes, os quais, sem esse elemento essencial a qualquer líder (a compaixão), sempre serão vistos como simples subordinados, ao invés de parceiros no serviço ao Senhor.
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Bom Líder – A liderança também dita moda, e a moda agora é ser relevante e excelente. O que você diria para o jovem líder cristão que sofre pressão para liderar de maneira sempre espetacular?
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Jonathan Menezes - Diante das constantes tentações para que o jovem líder cristão seja esse indivíduo polivalente, que não pode de modo algum demonstrar suas vulnerabilidades, nem tampouco fracassar em qualquer empreendimento que possa tomar frente, eu diria que uma liderança transformadora requer o devido reconhecimento, especialmente diante dos liderados, de suas fraquezas e limitações, e do ensino primordial de que, para sermos santos e virtuosos, antes precisamos ser totalmente humanos, aprendendo a extrair dos paradoxos dessa nossa humanidade, a beleza da Graça que nos faz imagem e semelhança de Deus. Aprendendo com as experiências, caminhos e descaminhos vivenciados e percorridos por líderes que protagonizaram a história da fé cristã, diria que uma das posturas mais coerentes, para mim, na busca de uma identidade e santidade vocacional, é a de não ambicionar o status de ser marcante, posto que a verdadeira “diferença” não se encontra na tentativa pré-agendada de ser-estar “relevante”, “espetacular” ou “poderoso” perante a coletividade (o que inclui a igreja), mas de desempenhar um ministério moderado pela discrição, sensatez e pela simplicidade, preferindo viver à “sombra”, aos pés de Jesus, o nosso Senhor, que é quem genuinamente deve “aparecer” em nossa vida e ministério. Os louros, sucessos e até mesmo uma possível fama, por sua vez, caso apareçam, devem aparecer como fruto natural e despretensioso de um processo, e não como objetivos máximos da liderança. Do contrário, nada nos diferencia do mundo.
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* Entrevista publicada originalmente no site Bom Líder: http://migre.me/BhMj

Um comentário:

Jenifer disse...

idiossincrasias, que palavra difícil de pronunciar, hehe.