Imaginem uma vila, que sobrevive e gira em torno de uma grande fábrica de queijo. Os habitantes dessa vila se alimentam e se sustentam pelo trabalho e a produção do queijo. Originalmente não havia uma hierarquia formal nessa fábrica; a hierarquia existente, mal podia ser assim chamada, pois o controle, afinal, estava nas mãos de todos, e todos ajudavam todos. Todos tinham direitos iguais no “negócio do queijo”.
O tempo foi passando, e esses direitos foram sendo cerceados em função dos interesses e do controle daqueles que se valeram da hierarquia. Logo, todos, os que produziam e estavam envolvidos no negócio, só poderiam consumir e pegar queijo passando pelas ordens do Senhor do queijo.
Tudo era por ele, para ele, e fora dele nada poderia acontecer. Ele tinha seus subordinados, é claro, que lhe serviam e eram mediadores nas relações com o restante do povo.
Até que um dia, um dos moradores da vila que trabalhava na fabrica se levantou e começou a questionar aquilo, dizer que a fabrica era para todos, logo a produção e seus resultados era direito de todos, sem ter a necessidade de passar pelo “senhor do queijo”, a quem eles deviam respeito, mas um respeito limitado. O foco estava na comunidade.
O problema é que esse homem é execrado por suas idéias de reformar a fábrica, e leva consigo um bocado de seguidores. Muitos desses se vêem descontentes, a partir de certo instante, com as mudanças propostas pelo tal homem. Eles queriam mais. Além de direitos de participação na “ordem do queijo”, tendo livre acesso ao negócio, eles queriam também direitos iguais no aspecto de distribuição desse queijo.
Outros, foram mais além, pois acharam que a “purificação” proposta pelo homem, pode ter sido suficientes para uma reforma normativo-organizacional. Na prática, porém, sua acusação era de que tudo permanecia na mesma, houve apenas uma “transferência de senhores”. O que eles propõem é uma reforma também nos costumes, buscando como modelo aquilo que faziam seus ancestrais, que lhes ensinaram o fundamental sobre como lidar com o “negócio do queijo”.
Para esses descontentes, tanto o homem, “reformador” inicial, e seus correligionários, bem como o “senhor do queijo” e todo o sistema por ele controlado, perderam a essência do legado de seus ancestrais. Necessitava-se de um retorno ao primitivo. Para isso, contudo, era preciso um afastamento obrigatório. Essa vila estava por demais corrompida em relação a seu projeto original.
A solução foi montar uma “nova Jerusalém” do queijo, onde todos viveriam conforme os ensinamentos dos seus ancestrais, e seriam purificados por uma nova maneira de iniciação, que passa por uma reforma nos costumes, bem como por novas maneiras de comer o queijo, por exemplo.
Muitas divisões aconteceram após esses ocorridos. A fábrica estava definitivamente em colapso. Os “radicais”, como assim foram chamados, começaram a ser fortemente perseguidos, sua comunidade ideal foi desfeita. Como castigo aos prisioneiros, muitos tiveram de ingerir quilos e mais quilos de queijo e, ironicamente, à nova maneira inventada por eles. Mas ainda não era o fim, muitos deles se dispersaram por outros lugares, e a causa dos radicais assim se perpetuou.
(Continua...)
Jonathan
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