Comecemos partindo do pressuposto de que toda conceituação não é uma ampliação – como queria o cientificismo moderno – mas uma redução das coisas. Diria o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, que todo conceito nasce por igualação do não igual. A igualação não é, portanto, a apreensão da coisa em si, mas o desaparecimento dessa coisa. O real escapa ao conhecimento. Logo, conceituar uma coisa é o mesmo que fazê-la desaparecer, não como realidade objetiva, mas como realidade não objetivável nos termos de sua complexidade no discurso em questão, seja de que natureza for.
Isso pode parecer complexo demais para um início de conversa. Parece, mas não é. Senão, pense comigo por um instante. Durante muito tempo, desde seu nascimento, crescimento, até a educação formal no primeiro e segundo graus (hoje ensino fundamental e médio), você certamente foi instruído(a) dentro de um tipo não muito aberto de conhecimento, que chamarei aqui de racionalidade X. Para tal racionalidade, seria inconcebível que uma coisa pudesse ter mais que uma expressão, noção explicativa, pois a racionalidade X é aquela que não abre margens para interpretação, somente para verdades. E onde não se tem interpretação, tem-se, portanto “verdade” – como sistema único de pensamento e explicação da realidade.
Logo, X só pode ser igual a X, B igual a B, e assim por diante.
Hoje (quero dizer, há certo tempo), porém, emerge um tipo de racionalidade mais dilatada (aberta), que chamarei de racionalidade Y. Ela é dilatada no sentido de que admite que X pode tanto ser X, como Y ou Z, depende do ponto de vista, isto é, da forma como se aborda X, da linguagem ou dialeto utilizado para enunciar X; trata-se de uma racionalidade mais interpretativa, que não abandona completamente a verdade (no sentido de aceitar que ela existe, lá fora, em algum lugar), com uma ligeira diferença: ela assume a inadequação dos conceitos que elabora à verdade pretendida, quer dizer, não tem pretensões à totalidades, grandes narrativas ou explicações do tipo “Saci-Pererê” (que têm uma perna só, usando o termo cunhado por Luiz Sayão).
Além disso, ela convive melhor com a multiplicidade que é inerente ao seu modo de produzir conhecimento, em conexão respeitosa e crítica com outros modos, que podem ser tão eficazes ou ineficazes quanto o seu. Aliás, o modo eficaz, segundo a racionalidade Y, é aquele modo que admite sua ineficácia, que convive bem com ela, e, mais do que isso, que a celebra.
Por isso, cabe afirmar: os textos desse blog não pretendem ser palavra determinante a respeito de nada, mas apresentar um ponto de vista possível às questões abordadas, admitindo tanto a ineficácia quanto a incompletude de seus postulados. E nas lacunas que porventura ficarem, orarei para que o Espírito continue me ilumiando na estrada da liberdade, por onde quero continuar trilhando, aprendendo e rumando.
Jonathan
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