“A alma de Jônatas ligou-se a de Davi, porque o amava como a sua própria alma... como a sua própria vida (1Sm 18.1,3).
Num mundo cujos prazeres e amores são cada vez mais efêmeros e utilitários, tenho me sentido impelido a fazer um voto de protesto e a afirmar o lugar das relações onde há compromissos duradouros, alianças e compromissos. Uma delas com certeza é a amizade. Amizade que geralmente é tratada como o mais “light” dos amores, ou que pouco teria a ver com espiritualidade. Quero encará-la, porém, como uma dádiva espiritual, em meio a um ambiente onde estamos sujeitos a hostilidades e utilitarismos, ao mesmo tempo em que os alimentamos. Um universo “plástico”, onde as relações são tão descartáveis como “garrafas pet”.
Quando, no entanto, penso em meus amigos (que em geral são poucos), penso em dádivas que Deus colocou em minha vida, com os quais posso fazer aliança, estabelecer uma relação mais leve, mas não menos compromissada, e crescer espiritualmente – o que significa evoluir como pessoa em todos os sentidos, já que a espiritualidade cristã não se plasma apenas em ritos ou disciplinas, mas é expressão de uma vida vivida conforme a graça e sob a direção do Espírito – é integral!
Isso implica em aprender a valorizar os relacionamentos – já que o “ser espiritual” é, antes de tudo, ser relacional – aprendendo a tratar nossos sentimentos e os dos outros com integridade.
Relacionamentos são complicados, é verdade, porque se dão entre seres humanos tremendamente complexos e diferentes. Mas aí é que está a “graça” da questão, vocês não acham? Deus seja louvado pela diversidade e pela complexidade da existência. Se tudo fosse fácil e uniforme, que crescimento isso me traria? Quão melhor eu poderia me tornar não fosse a indigesta “ajuda” de meu lado pior? Como progredir sem conflito, e como amar sem sofrer?
Não tem como. Amar é também sofrer – talvez por isso muita gente hoje não troque felicidade por amor, quando esse amor entra em conflito com sua concepção de felicidade, mais parecida com um “mar de rosas”. Amor e felicidade são parceiros de jornada, desde que a felicidade em questão não se pareça com a negação do infortúnio. Relacionar-se é entrar num mundo de conflitos, comprometer-se é pagar o preço da decisão, é alimentar a relação e lembrar-se sempre do outro, talvez mais do que de si mesmo.
Ao mesmo tempo, tem o lado bom (que relação sobreviveria sem ele?), de ter com quem contar e para quem contar nossas histórias, com quem se alegrar e chorar, dividir e partilhar experiências. Não é bom, nem nunca foi, que estejamos sós, porque afinal ninguém consegue viver assim. Isso me lembra da poesia de Vinicius de Morais: “Pense muito, que é melhor se sofrer junto, que viver feliz sozinho”. Ou de Salomão: “Em todo tempo ama o amigo, que na angústia se faz irmão”.
Assim, que o Senhor me (e te) conduza sempre por águas mais profundas, mais alegres e tranquilas, ainda que às vezes sombrias, e me faça ser amigo e me ajude a encontrar amigos, ou nutrir a relação com quem já “me encontrei”, e a aprender a valorizar o que há de mais profundo nos outros, não me rendendo, desse modo, a um mundo de aparências belas, mas de corações e almas vazios.
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Jonathan
Belíssimo!
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