Essa é a parte em que reconhecemos nossas imperfeições, limitações, que ainda há um longo caminho a percorrer; não somos inventores de nossa vida e não temos tudo sob controle, ainda que, muitas vezes, nossa existência nesse mundo possa se resumir em um grande esforço e sofrimento em função do desejo de controlar tudo, até o futuro.
Isso é muito difícil para o intelectual, que lida o tempo todo com a busca pelo conhecimento que, num certo sentido, pode ser vista como busca pela “completude”. Por isso, é sempre bom recordar a máxima de Sócrates: “Só sei que nada sei”. Quanto mais eu sei, mas reconheço que, na verdade, não sei. Contudo, por saber que nada sei, maior ainda será meu esmero em prosseguir instintivamente no caminho do saber, constante, provisório, inacabado...
E para o conhecimento teológico isso é ainda mais válido. A incompletude é o ponto de partida do fazer teológico. A única coisa que sabemos é que estamos a caminho e o que vale é o caminhar e nada mais. Ainda não chegamos, há uma longa jornada pela frente. Pensar que estou lidando com o conhecimento de Deus me inspira mais ainda a vislumbrar esse caminho e a condição inacabada de nossa tarefa: “conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Os 6.3).
Outras duas contribuições de Paulo me chamam a atenção. A primeira está também em 1Coríntios 13, verso 12: “Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido”. Em outra tradução (The Message) se diz: “Apenas conhecemos uma porção da verdade, e o que dizemos sobre Deus é sempre incompleto. Mas quando o Completo chegar, nossas incompletudes serão canceladas”. Faz sentido isso para você? Pois para mim faz muito sentido...
A outra contribuição paulina está em Filipenses 3.12: “Não que eu já tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, mas prossigo para alcançá-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado”. Essa é uma afirmação tremendamente Cristã, de humildade, honestidade e inquietação: Eu ainda não terminei, ainda não estou acabado, não cheguei à reta final. E porque eu não me considero um expert nesse negócio, olho para frente e sigo adiante, procurando aquilo que ainda me aguarda.
Esses exemplos me ajudam a entender um pouco mais que a incompletude não é a minha tragédia (ainda que possa parecer), mas o caminho para a liberdade e dependência de Deus, atributo indispensável da vida, mais ainda da vida intelectual.
Jonathan
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