terça-feira, 25 de agosto de 2009

A minha Graça te basta...

“... porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (1Co 12.9).

Sempre fui ensinado a não duvidar nem pôr em cheque o valor da Palavra de Deus. Isso, pois tenho boas razões para crer que, se assim o fizer, não sairei decepcionado, afinal ela provém de Deus. Todavia, a cada dia que passa me convenço de que a não decepção é uma das presunções mais tolas que alguém pode nutrir, porque elas acontecem o tempo todo, não é mesmo?

Por razões obvias ou tácitas, grandes ou pequenas, importantes ou banais, o fato é que estamos fartos delas. E isso ocorre não porque haja algum indício verdadeiro na existência ou na Bíblia que me prometa aquilo que não pode cumprir, tal como muitos políticos os fazem. Mas há um forte indício de que eu tendo a criar uma expectativa grande demais ou ilusória a respeito de mim mesmo, dessa existência, de Deus, dos outros, e essa é uma das fontes de minhas decepções.

Em certa época de minha infância eu nutri a expectativa de ganhar uma bicicleta. Meus pais não prometeram, aliás, eles até adiantaram algumas vezes que isso jamais aconteceria. Porém, natal após natal, aniversário após aniversário, a expectativa permanecia, e com ela, sua não realização, e a grande decepção... Tive que aprender a duras penas que nem sempre meus ensejos interiores corresponderiam à realidade, às condições externas e ou à vontade de Deus pra mim. Depois de um tempo eu até tive uma bicicleta, mas esse não é o ponto, é? Porque outros anseios tomam lugar, eles são de uma fonte inesgotável, de modo que permanece a sensação de que nada é suficiente o bastante para aquietar meu eu que sempre quer mais, e mais...

Esse é um de meus espinhos na carne, que me dá “bom dia” quando acordo e “boa noite” quando me deito. É como um parasita que não sai, porque veio talvez para ficar de vez. Identifico-me com o pedido de Paulo: “Três vezes pedi que o arrancasse”. É insuportável conviver com isso, então arranca-o de mim, afasta de mim esse cálice! E mesmo quando, como Paulo, reconheço uma razão plausível para sua permanência, ainda assim prefiro não ter de conviver com o espinho.

E a resposta de Deus vem demolir minhas falsas pretensões e expectativas de que as coisas poderiam ser facilitadas para o meu lado: “A minha graça é suficiente pra você”. Daí, entendo que o papel de Deus não é o de dar um jeitinho nas coisas como num passe de mágica, mas o de Ser-presente sempre a meu lado, usando situações, favoráveis ou desfavoráveis a meus olhos, para meu crescimento, e aperfeiçoando seu poder por meio de minhas fraquezas.

Paradoxal, não? Estamos acostumados a ouvir que poder é sinônimo de força. Mas isso NÃO vale para uma vida na e pela graça, pois tal vida só “é” na graça, e ponto; não há nada a mais, ela basta, ela é melhor que a própria vida, pois sem a graça não há vida. De tal maneira que todos os dias em que tenho de ter face a face com o espinho, peço a Deus forças para me convencer, um pouco mais, outra vez, que a sua graça me basta, é suficiente para mim.

Isso me conduz a uma vida de honestidade, que passa pela aceitação e celebração de quem eu sou e da vida que me foi dada, com suas rosas e... Espinhos! Era pra ser assim; o espinho, seja lá ele de que natureza for, talvez tenha mesmo de permanecer para me esbofetear e lembrar-me sempre que dependo do Senhor. Nessas horas, posso lembrar dos versos da canção de Stenio Marcius, que interpreta poeticamente o texto de Paulo:

Às vezes parece que estou só e vencido, mas ao olhar vejo o meu Senhor, olhando para mim e dizendo, dizendo assim: a minha graça, a minha graça te basta, te basta, te basta; Porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. A minha graça te basta, te basta, te basta, porque quando sou fraco é que sou forte, que sou forte, que sou forte”.

Jonathan

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