Não vejo Jesus sendo um pouco sequer indulgente com essa corja. Pelo contrário, ele põe o dedo na ferida e aponta tremendas contradições existentes neles. Enquanto se apegam às suas tradições como carrapatos num cão, negam e subvertem o sentido da própria lei, que afirmam defender. “É bem isto, rejeitais o mandamento de Deus para guardar a vossa tradição... anulais a palavra de Deus com a tradição que vós transmitis” (v. 9, 13).
Isso me lembra Paulo quando escreve aos Gálatas, perplexo com a facilidade com que aqueles haviam se desviado da verdade do Evangelho, de sua vocação para a liberdade, para se render à escravidão da Lei, da justificação por esforço próprio. Ele diz: “De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na Lei; da graça decaístes” (Gl 5.4). E, contra os judaizantes, os líderes que faziam aqueles cristãos tropeçarem, ele dispara: “Tomara até que se mutilassem os que vos incitam à rebeldia” (Gl 5.12).
Tanto como em Jesus, não vejo em Paulo a menor comiseração ao se referir a esses líderes-abusadores do rebanho. Jesus compara essa corja aquela a qual Isaías se referia dizendo: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim; é em vão que me prestam culto, pois as doutrinas que ensinam não passam de preceitos de homens” (v. 6-7).
Não é muito complicado, para quem tem o mínimo de sensatez e intimidade com a Palavra, identificar rupturas e diferenciar uma tradição (mesmo as mais mascaradas de piedade) e o Evangelho puro e simples. Lembro de uma palavra que Carlos Queirós disse certa vez numa palestra, quando falava do Evangelho e da igreja. Ele afirmou que o que Jesus chamava de “igreja” não era esse negócio que a cristandade foi criando. E disse mais: que o “evangelho” não pode ser comercializado. O evangelho caricaturizado e distorcido pode até ser. Mas o evangelho de Jesus de Nazaré não. E indagou: ora, quem quer comprar o direito de dar a outra face? Quem comercializaria o direito de perdoar que te ofende ou de amar quem é seu inimigo? Se encontrarem alguém, me avisem...
Nesse texto, Jesus oferece algumas pistas de como fazer isso:
1) Tradições são preceitos de homens, enquanto o evangelho significa boas novas de Deus para o mundo.
2) A tradição se apega mais a rituais, doutrinas bem elaboradas e fechadas, e a uma moralidade exterior (como a de não lavar as mãos antes de comer), enquanto o evangelho quebra convenções religiosas, paradigmas, tradições e gera vida, concerne à vida, ao ser humano integral.
3) A tradição exige que a pessoa mantenha uma exterioridade limpa, polida, com aparência “santa”; o que corresponde, numa linguagem pastoril, a um rebanho sempre bem “tosadinho” e em linha. Pura fachada. Só que por dentro, humm... O bolor pode comer solto, soltinho. Em contrapartida, o evangelho não se prende a essas amenidades do exterior, à artificialidade da fé: cosmética, auto-indulgente, fisiologista. O que está e vem de dentro é mais importante pra Deus.
1) Tradições são preceitos de homens, enquanto o evangelho significa boas novas de Deus para o mundo.
2) A tradição se apega mais a rituais, doutrinas bem elaboradas e fechadas, e a uma moralidade exterior (como a de não lavar as mãos antes de comer), enquanto o evangelho quebra convenções religiosas, paradigmas, tradições e gera vida, concerne à vida, ao ser humano integral.
3) A tradição exige que a pessoa mantenha uma exterioridade limpa, polida, com aparência “santa”; o que corresponde, numa linguagem pastoril, a um rebanho sempre bem “tosadinho” e em linha. Pura fachada. Só que por dentro, humm... O bolor pode comer solto, soltinho. Em contrapartida, o evangelho não se prende a essas amenidades do exterior, à artificialidade da fé: cosmética, auto-indulgente, fisiologista. O que está e vem de dentro é mais importante pra Deus.
(Continua...)
Jonathan
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