segunda-feira, 2 de março de 2009

Um convite à liberdade (parte I)

Guias de cegos! Vocês coam um mosquito e engolem um camelo” (Mt 23.24).

Em tantos momentos, as palavras de Jesus, apesar de exortativas ou quem sabe ásperas demais para serem aceitas, podem soar para nós como um canto de liberdade. Isso, pois as notas musicais proféticas e a melodia desafiante conduzem esse canto a um patamar de choque com a onda musical predominante no momento, fazendo com que os ouvintes atentem para um lado da vida que antes, estrategicamente ou não, preferiam ignorar. Suas palavras são como um tiro fulminante acertando o alvo bem no centro, produzindo um som alucinante e uma transformação inesperada. Como anelo por ver esse canto ressoando nos ouvidos dos opressores (religiosos e não-religiosos) de hoje, sendo entoado por cristãos inconformados e persistentes da contemporaneidade, os quais farão coro ao lado de inúmeras vozes de pessoas que continuam sofrendo na pele diversos tipos de escravidão.

A escravidão do trabalho, imposta por aqueles que exploram a dignidade alheia socializando a miséria e concentrando em si mesmos o usufruto que, por direito, deveria ser de quem trabalha. Alguém poderia indagar: “Escravidão? Mas ela não foi abolida há mais de 100 anos?” Claro, isso é fato, digo, o ato formal da abolição propriamente dita – extinta no Brasil com a Lei Áurea, em 1888 . Na prática, porém, não passou de abolição “para inglês ver”. Há muita gente nesse país que ainda não a viu e uma “seleta” parcela de indiferentes que prefere não notar que a escravidão não foi totalmente extinta e a liberdade não transpassou o nível do discurso, do acordo intelectual, dos lemas e bandeiras que são levantados, para o dia-a-dia dos comuns do povo.

Ainda podemos mencionar outras formas de escravidão, como a escravidão sexual, que não somente atinge meninos e meninas ao venderem seus corpos em troca de sobrevivência, mas também a pessoas “bem-casadas”, e aqui me refiro às mulheres que são estupradas, usadas e abusadas por seus próprios maridos e suportam caladas, pensando estar cumprindo um dever moral. Sim, as mulheres já superaram diversos obstáculos a sua liberdade; vêm conquistando vitórias sobre o preconceito e as barreiras de gênero em muitas áreas, como na esfera profissional. Contudo, quantas mulheres ainda hão de sofrer opressão pelo preconceito e a discriminação, vendo seus direitos sendo espoliados por um sistema sócio-cultural machista e paternalista que persiste em predominar?

(Continua...)

Jonathan

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