Bem, o evangelho... Ele é identificado como boas novas de Deus para a “casa da humanidade”. De Deus porque ele procede Dele (Mc 1.14), assim como quem foi a expressão máxima e verificável dessa mensagem, Jesus, também procedeu do Pai, sendo ele “um” com o Pai. O evangelho nasceu do coração de Deus como expressão de uma terna e incessante busca do Senhor por uma aproximação com o ser humano, distanciado dele em função do pecado.
O cunho “integral” é uma redundância – porque o evangelho não precisa desse nem de nenhum complemento, ele já é um todo. Certo, uma redundância, mas uma redundância que se fez necessária! Isso, porque nos deparamos nos últimos 50 anos com um evangelho esquartejado, fragmentado, isto é, com algumas partes sendo mais ou menos enfatizadas que outras. Se o evangelho corresponde às boas novas de Deus, a evangelização é o anúncio de um reino cujas premissas são precisamente essas boas novas. Logo, um evangelho concebido parcialmente gera uma evangelização e, por conseguinte, uma missão também parciais.
Isso começou a gerar incômodo em algumas pessoas – especialmente em países do terceiro mundo – cujo compromisso com o reino ia muito mais além de uma vida aburguesada entre quatro paredes: “triângulo da felicidade” (igreja-casa-trabalho), rígidas leis, práticas de piedade, bem-estar pessoal e prosperidade em todos os sentidos. Isso gera inquietude num povo marcado pela experiência de Jesus Cristo, que, “para santificar seu povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta”, de modo que nossa resposta não poderia ser outra senão a de também sair, pois, a ele, fora do arraial, levando nosso vitupério (Hb 13.12-13).
O teólogo costarriquenho Orlando E. Costas, um dos arautos desse movimento de “retorno” à vivência evangelho em sua integralidade na América Latina, faz uma interessante crítica sobre certa visão pragmática de evangelização e sobre o crescimento numérico da igreja evangélica, vigentes já na década de 80:
Quando lemos informes sobre o fenomenal crescimento numérico de algumas igrejas como resultado de seus esforços evangelizadores, e logo vemos como essas mesmas igrejas sacralizam o status quo, negando-se a mostrar um estilo de vida qualitativamente distinto e gerando obstáculos à transformação das instituições sociais, econômicas, culturais e políticas de sua sociedade, temos todo o direito de questionar a validade da ação evangelística dessas igrejas e sua fidelidade a mensagem da cruz. Dito de outra forma, a prática social de uma comunidade eclesial revela a qualidade de sua confissão.
(Orlando Costas, Evangelización Contextual, p. 82).
(Continua...)
Jonathan
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