Duas semanas que não escrevo um semanal, e temo que esse seja o último, pois minha jornada em Amsterdam está no fim, em sua última semana. Andei viajando um bocado pela Europa e depois fiquei muito ocupado em compromissos com igrejas daqui. Eles financiaram (junto com a Universidade) minha vinda, estudos e estadia, e obviamente esperam algo em troca, que na verdade consistiu em intercâmbio de experiências em que ambos ouvimos uns aos outros acerca de nossos contextos, enfocando principalmente a igreja. No caso do Brasil, senti os holandeses com que tive contato muito interessados em saber sobre esse clima religioso exótico que temos em nosso país, e toda a multiplicidade de credos, sincretismos e troca cultural que ele comporta, mesmo na chamada “igreja evangélica” – nesse caso, o problema foi explicar a eles o que é ou quem é “evangélico” no Brasil. Acho que eles ficaram confusos, mas tudo bem, as relações eclesiásticas aqui na Holanda não são tão menos complicadas.
Quando entramos no assunto Igreja na Holanda, foi inevitável não comentar algo que ficou explícito, em ambas as congregações protestantes que visitei (em Apeldoorn e Freasland): a maciça ausência de gente jovem, sobretudo nas congregações da Igreja Protestante. Quem olhar algumas dessas igrejas cheias de modo panorâmico e focar apenas as cabeças, pode ter a sensação de estar numa plantação de algodão – com todo o respeito aos idosos, é só uma maneira bem-humorada de expressar a predominância dos irmãos e irmãs de cabelo branco nessas comunidades. Na roda de pessoas com as quais jantei na igreja, no sábado retrasado, por exemplo, afora eu, todos os outros tinham idade acima de 50 anos, num grupo de dez pessoas. E nos perguntávamos: para onde estão indo os jovens dessas igrejas? A resposta é óbvia, se considerarmos dois fatores mencionados em outros semanais, sobretudo no Semanal IV, que são o processo de secularização, que atinge, mormente, essa nova geração (15-30 anos), e a ineficácia das igrejas de perfil reformado, mais tradicional, em alcançá-los, em incluí-los.
E o mais interessante disso tudo é que as pessoas de igreja e líderes com quem conversei não me pareceram tão preocupados com tal realidade a ponto de iniciar por si mesmos, a partir de sua congregação, um processo inverso, que talvez comece pela flexibilização das estruturas, pelo desmantelamento dessa besteira eclesiástica (em parte necessária, em parte totalmente inútil) chamada hierarquia, e por uma renovação do estilo de ser igreja – sua teologia, sua linguagem, suas formas, programações. Mas tudo isso requer muito esforço, boa vontade e um senso grande de que isso é algo necessário à própria sobrevivência e posteridade dessas igrejas, sob pena de num prazo não muito longo restarem apenas prédios vazios, que então servirão talvez de museu ou patrimônio histórico.
Continua...
Jonathan
(Foto: A congregação e o cemitério em Freasland)
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