quarta-feira, 28 de maio de 2008

Abertos para um balanço (II)

Um amigo, certa vez, me deu uma simples (e aparentemente óbvia), mas significativa exortação, ao dizer que “a melhor maneira de resolver um dilema é não tentar escondê-lo, de si mesmo e dos outros”. Meu posicionamento naquele momento era como o de uma ostra, ou um avestruz, tentando me esconder a todo custo e querendo evitar que a claridade trouxesse à tona meus erros, medos e frustrações, os quais eu insistia em manter no secreto. A introspeção (apesar de salutar e alguns momentos), neste sentido, é a pior e mais enganosa maneira de se solucionar um problema, seja ele de ordem moral, psicológica ou espiritual. É como diz C.S. Lewis:

A pretensão de descobrir por meio de análise introspectiva a nossa condição espiritual afigura-se-me coisa mais horrível que jamais nos pode revelar os mistérios do Espírito de Deus ou do nosso; na melhor das hipóteses revela-se a sua transposição para o intelecto, a emoção e a imaginação; e na pior constitui o caminho que mais rapidamente conduz à presunção ou ao desespero[1].

E isto vale não apenas para os problemas, mas também às alegrias, vitórias, sonhos, perdas e dores, ganhos e desventuras da vida. Expor o nosso íntimo pode significar a abertura de um leque de possibilidades, que inclui oportunidades para que outras pessoas nos ajudem a suprimir nossas deficiências, e para que também sejam ajudadas. Assim, o que antes parecia ser problema, isto é, fazer-me conhecido como sou às outras pessoas, passa a ser solução, pois, conforme Paulo, “nenhum de nós vive para si, nem morre para si” (Rm. 14:7). Se vivêssemos (ou morrêssemos) tão somente em causa própria, Cristo deixaria de ser senhor (centro) de nossa existência e morte, e assim retornaríamos à condição precedente de “velho homem” e “velha mulher”, cedendo aos apelos humano-diabólicos do ego e do orgulho. Desta forma, um simples “fechar para balanço” pode ser muito mais nefasto do que podemos imaginar.

Henri Nouwen aponta para um possível “caminho de retorno”, que é o de estarmos abertos para balanço, alimentando a in-clusividade e o auxílio mútuo, incentivando uns aos outros a encarar as perdas e lutas de frente:

Ao aceitar sem repulsa as dores da vida, poderemos encontrar o inesperado. Ao convidar Deus para participar de nossas dificuldades, fundamentaremos nossa vida – até mesmo seus momentos tristes – em alegria e esperança. Ao parar de querer apossar-nos da vida, receberemos mais até do que conseguimos agarrar por nós mesmos. E aprenderemos o caminho para um amor mais profundo pelos outros. [...] Percebi que a cura começa quando tiramos nossa dor do isolamento diabólico e passamos a ver que, por mais que soframos, sofremos em comunhão com toda a Humanidade, bem como com toda a criação. Ao agir desse modo, tornamo-nos participantes da grande batalha contra o poder das trevas. Nossa vida participa de algo muito maior[2].

Jonathan
Notas
[1] LEWIS, C.S. Palestras que Impressionam. São Paulo: Edições Vida Nova, 1964, p. 15.
[2] NOUWEN, Henri. Transforma meu pranto em dança. 2ª ed. Rio de Janeiro: Textus, 2003, p. XV, 04.

2 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Jonathan;

por acaso me deparei com seu blog. Se bem que nada nesta vida acontece por acaso. As digitais de Deus estão sempre impresas en todo e qualquer acontecimento da vida.
Sou leitor de Henri Nouwen. Também escrevo em um blog acerca do ser humano. E gostaria de parabenizá-lo pelo blog.
Aproveito e deixo meu endereço de contato:

Flávio Sobreiro
sobreyro@hotmail.com (e-mail e MSN)

BLOG
www.essencia.arteblog.com.br

Abraços e fique com Deus!

Anônimo disse...

Querido Jonathan, estou muito feliz e cada vez mais encantado com o seu blog...incrível ver que através de seus textos espirituais, me encontro perfeitamente e aprendo muito com Henri Nouwen!
Fernando Tenório (Maceió- Al)
fernandotenorio11@hotmail.com