Um amigo, certa vez, me deu uma simples (e aparentemente óbvia), mas significativa exortação, ao dizer que “a melhor maneira de resolver um dilema é não tentar escondê-lo, de si mesmo e dos outros”. Meu posicionamento naquele momento era como o de uma ostra, ou um avestruz, tentando me esconder a todo custo e querendo evitar que a claridade trouxesse à tona meus erros, medos e frustrações, os quais eu insistia em manter no secreto. A introspeção (apesar de salutar e alguns momentos), neste sentido, é a pior e mais enganosa maneira de se solucionar um problema, seja ele de ordem moral, psicológica ou espiritual. É como diz C.S. Lewis:
[1] LEWIS, C.S. Palestras que Impressionam. São Paulo: Edições Vida Nova, 1964, p. 15.
[2] NOUWEN, Henri. Transforma meu pranto em dança. 2ª ed. Rio de Janeiro: Textus, 2003, p. XV, 04.
A pretensão de descobrir por meio de análise introspectiva a nossa condição espiritual afigura-se-me coisa mais horrível que jamais nos pode revelar os mistérios do Espírito de Deus ou do nosso; na melhor das hipóteses revela-se a sua transposição para o intelecto, a emoção e a imaginação; e na pior constitui o caminho que mais rapidamente conduz à presunção ou ao desespero[1].
E isto vale não apenas para os problemas, mas também às alegrias, vitórias, sonhos, perdas e dores, ganhos e desventuras da vida. Expor o nosso íntimo pode significar a abertura de um leque de possibilidades, que inclui oportunidades para que outras pessoas nos ajudem a suprimir nossas deficiências, e para que também sejam ajudadas. Assim, o que antes parecia ser problema, isto é, fazer-me conhecido como sou às outras pessoas, passa a ser solução, pois, conforme Paulo, “nenhum de nós vive para si, nem morre para si” (Rm. 14:7). Se vivêssemos (ou morrêssemos) tão somente em causa própria, Cristo deixaria de ser senhor (centro) de nossa existência e morte, e assim retornaríamos à condição precedente de “velho homem” e “velha mulher”, cedendo aos apelos humano-diabólicos do ego e do orgulho. Desta forma, um simples “fechar para balanço” pode ser muito mais nefasto do que podemos imaginar.
Henri Nouwen aponta para um possível “caminho de retorno”, que é o de estarmos abertos para balanço, alimentando a in-clusividade e o auxílio mútuo, incentivando uns aos outros a encarar as perdas e lutas de frente:
Ao aceitar sem repulsa as dores da vida, poderemos encontrar o inesperado. Ao convidar Deus para participar de nossas dificuldades, fundamentaremos nossa vida – até mesmo seus momentos tristes – em alegria e esperança. Ao parar de querer apossar-nos da vida, receberemos mais até do que conseguimos agarrar por nós mesmos. E aprenderemos o caminho para um amor mais profundo pelos outros. [...] Percebi que a cura começa quando tiramos nossa dor do isolamento diabólico e passamos a ver que, por mais que soframos, sofremos em comunhão com toda a Humanidade, bem como com toda a criação. Ao agir desse modo, tornamo-nos participantes da grande batalha contra o poder das trevas. Nossa vida participa de algo muito maior[2].
Jonathan
Notas[1] LEWIS, C.S. Palestras que Impressionam. São Paulo: Edições Vida Nova, 1964, p. 15.
[2] NOUWEN, Henri. Transforma meu pranto em dança. 2ª ed. Rio de Janeiro: Textus, 2003, p. XV, 04.
2 comentários:
Prezado Jonathan;
por acaso me deparei com seu blog. Se bem que nada nesta vida acontece por acaso. As digitais de Deus estão sempre impresas en todo e qualquer acontecimento da vida.
Sou leitor de Henri Nouwen. Também escrevo em um blog acerca do ser humano. E gostaria de parabenizá-lo pelo blog.
Aproveito e deixo meu endereço de contato:
Flávio Sobreiro
sobreyro@hotmail.com (e-mail e MSN)
BLOG
www.essencia.arteblog.com.br
Abraços e fique com Deus!
Querido Jonathan, estou muito feliz e cada vez mais encantado com o seu blog...incrível ver que através de seus textos espirituais, me encontro perfeitamente e aprendo muito com Henri Nouwen!
Fernando Tenório (Maceió- Al)
fernandotenorio11@hotmail.com
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