quinta-feira, 13 de março de 2008

O que fazer quando me sinto distante? (II)

Tornai-vos praticantes da palavra e não somente ouvintes...” (Tg 1.22).

Ao mesmo tempo em que a graça de Deus vem nos acolher em nossas fraquezas e superabundar frente à multidão de nossos pecados, ela também pressupõe compromisso de vida com o Deus da Palavra, que nos justifica, mas igualmente nos corrige, como uma faca de dois gumes. Muitas vezes, contemplamos e vemos nossos corações encharcados de uma angustia que nos tira o sono, que pode minar a incompreensível paz do Espírito, mas que também nos faz acordar para o fato de que, se chegamos nesse ponto, é porque nos afastamos da comunhão com Deus em algum momento ou circunstância de nossas vidas, seja pela apatia (o “mal do século” da Igreja), indiferença ou outro pecado.
Essa angústia na alma e uma incômoda sensação de desajuste, e até uma certa culpabilidade, podem ser sintomas do, ainda que breve e circunstancial, distanciamento. As inúmeras distrações e “cuidados” da vida parecem ter outra vez sufocado nossa paixão por Jesus Cristo. E o que fazer quando isso acontece? Seria simplista demais se dissesse que basta orar e ler mais a Bíblia que tudo se resolve. Por outro lado, seria um crime negligenciar a importância e o poder de transformação que há nestes dois itens básicos de uma vida cristã saudável e produtiva. Necessitamos, outra vez, do equilíbrio para enfocar a espiritualidade e a vida de uma maneira integral, como Deus vê.
Quão custoso se torna o caminho de saída desse labirinto espiritual e existencial em que entramos quando percebemos que nos afastamos de um relacionamento vivo com o Senhor – e veja que eu digo “nos afastamos”, e não que Deus esteja longe ou não mais presente. Nesses instantes em que a voz do Espírito, que antes tanto “incomodava”, se torna cada vez mais indistinguível de outras vozes, como ecos a quilômetros de distância, vemo-nos mais próximos da enganação de nos mantermos apenas como ouvintes passivos da Palavra. Todavia, a Palavra viva nos impele à ação – “tornai-vos praticantes” – o que significa considerar de novo o que temos feito, a quantas temos andado, e retornar ao caminho de escuta e vivência, pela graça, das palavras de Deus.
O Senhor nos corrige apenas porque nos ama – “Eu disciplino a quem amo”, Ele diz. Pode nos envergar, mas nunca nos quebra; nos provar, mas nunca desamparar. Tudo isso me leva a concluir que podemos, sim, nos distanciar por um pouco, de uma relação viva com o Senhor, mas nunca o bastante para que jamais o encontremos outra vez ou para que nos deixe de amar. Nada poderá nos separar do amor de Deus! Que doce mistério! A Deus seja a glória!

Jonathan

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