sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Um recado para a juventude: o Pai quer celebrar!



O cristão não é, pelo menos em tese, um seguidor de leis e códigos morais, com a Bíblia como sua “regra de fé” ou de qualquer outra coisa. Regras se obedecem ou não; ninguém se debruça sobre elas, faz esforço de crítica e discernimento, busca iluminação através delas ou as trata com reverência. Não. O cristão vive pela fé, sustentado pela e na graça de Deus, e em busca de discernimento mediante a escuta do clamor das necessidades de seu contexto imediato e da voz do Espírito. Quanto à juventude, precisamos nos arrepender e reconhecer que, como igreja, temos sido negligentes tanto em nossa tarefa de discernimento e compreensão — quem sabe porque nos aferramos demais às “regras”, velhas ou novas — como de acolhimento de suas demandas. Pelo contrário, nos acomodamos cegamente com a manutenção, repetição e preservação, evitando a todo custo os riscos de qualquer natureza.

Subestimamos nossa juventude, seja quando a rotulamos e a marginalizamos como “perdida”, “rebelde” ou “desinteressada”; seja quando abraçamos a causa de arrebanhá-la, oferecendo, numa versão particular da “sociedade do espetáculo”, menos alimento e mais entretenimento. Não é à toa que muitos — refiro-me aos que não se encaixam no esquema “pão, circo e salvação” — sintam arrepios só de ouvir a palavra “Igreja”, ou quando se dão conta de que tem alguém querendo “pregar para eles”. Parafraseando José Comblin, essas ovelhas perdidas do aprisco — da igreja, não necessariamente de Deus — não se mantêm longe dela por razões de distância ou falta de comunicação — muitas igrejas têm feito “direitinho” a lição de casa de comunicação na era cibernética; afastam-se simplesmente porque querem, e sabem que a igreja tem feito, há um bom tempo, um grande esforço para frustrar suas aspirações à liberdade, salvo exceções. Com medo dos riscos da vivência e da teologia sobre a liberdade, esquecemos quase completamente de seu lugar fundamental no evangelho como uma vocação.

Tem faltado tanto aos jovens “de dentro”, como aos alheios à igreja, gente que comunique mais, com intencionalidade e sem ficar “pisando em ovos”, a boa notícia de que o Pai não é contra a vida, contra a festa ou a se aproveitar o dia. Pelo contrário, o Pai quer ter a chance de poder celebrar a vida conosco como convidado de honra, sem enchê-la de mais peso, castigo ou obrigações, oferecendo uma nova noção de compromisso, que tem a ver com vida e não com escravidão. Falta gente com a revelação encarnada e presente de um Deus gracioso, que os convida para uma caminhada de alegria e liberdade no espaço largo de sua casa, que mais que um lugar, é uma condição de existência e relacionamento na qual possam entregar seus corpos — muitas vezes marcados e feridos por nossas escolhas e pela dureza de suas curtas vidas — para serem sarados e restaurados integralmente por Ele. Como lembra Nouwen, “a comemoração faz parte do Reino de Deus. Deus não só oferece perdão, reconciliação e cura, como deseja que aqueles a quem esses dons são conferidos o recebam como uma fonte de alegria”.

O que mais me chama a atenção, ao reler a parábola do filho pródigo, é que não somente os dois filhos são figuras vulneráveis e perdidas da história. O pai também é. Não da maneira dos filhos, é claro; o pai é “perdido de amor”. É essa imagem de Deus que a parábola me revela: a imagem de um Deus de amor, que também se encontra “perdido” em busca de seus filhos perdidos e não descansa até que, finalmente, os encontre. Um Deus que nos ama com um amor incondicional, incansável, imponderável, insano e injusto aos nossos olhos. Um amor que, como defende Brennan Manning, “abraça a todos sem exceção. De novo, o amor de Deus é tolo”.

É para esse tipo de loucura que Deus nos chama como igrejas, jovens e filhos de todas as idades: amar com um tipo de amor que o mundo desconhece, motivo de espanto, escândalo, e até mesmo frustração. É um amor que não força, não se apossa, agarra ou empurra; é um amor que liberta da obrigação do amor, para a possibilidade do amor. Possibilidade de acolher ou de rejeitar. Por isso amar às vezes dói, por isso nos deixa tão vulneráveis. Mas é esse amor que nos identifica como filhos de Deus, e que também nos conduz à maturidade como gente e, assim, a abraçar nossa vocação como pais e mães de filhos biológicos, adotivos ou na fé. Pessoas a quem Deus ama, filhos a quem Ele nos dá o privilégio de co-amar-gerar.

Jonathan

* (Última parte de meu artigo "Os filhos do pai perdido e a juventude evangélica", publicado em Novos Diálogos - http://www.novosdialogos.com)