E por que teria? Talvez porque o simples pronunciar desse nome já cause diferentes reações sociais, especialmente na cidade secularizada, onde o nome dele é tão usado, e às vezes com tanta banalidade, que já ficou desgastado. É como se cada vez que se pronunciasse “Jesus”, uma ideia esquisofrênica não diretamente associada ao Jesus dos evangelhos, mas ao Cristo vulgarizado do dia a dia, nos viesse à mente causando ligeiro desconforto. Será que as pessoas estão pensando que o Jesus sobre o qual falo é esse “Jesus genérico”? O que os diferencia?
Então percebo que meu incômodo é por causa do genérico, não do Cristo vivo. Mas será que tanta gente está tão envergonhada do genérico quanto eu me sinto? Quer dizer, o genérico é mais barato, manipulavel, fácil de comprar e propagar. Já o Jesus de Nazaré foi pregado numa cruz e o pessoal de hoje parece não querer se identificar com uma cruz, a não ser como credo e meio de salvação, e não como um caminho a se seguir. Apesar de tudo, o genérico sempre parece ser mais atraente...
Não tenho vergonha de Jesus... Vergonha tenho de seus detratores e caricaturistas. Tenho especial vergonha de mim mesmo, quando o Cristo que em mim transparece não passa de caricatura daquele que Paulo diz ser o “primogênito de toda criação” (Cl 1.15). Tenho vergonha de quando quando percebo que Jesus é mais objeto de minha fala do que visto em minha vida.
Não tenho vergonha de Jesus, mas tenho vergonha do que fizeram com o cristianismo. Transformaram-no em uma prateleira de ofertas das mais variadas possíveis, onde Jesus não passa apenas mais um artigo de decoração, que todo mundo quer ter em casa porque “é legal e faz bem”... Não me envergonho do Evangelho, como disse Paulo, porque é o poder de Deus alcançando não só o judeus, mas também gregos, mas me envergonho daquele “outro evangelho” e da “outra graça”, que são produto da adoração oferecida em altares de barganha religiosa.
Não tenho vergonha de Jesus, especialmente porque ele é a expressão viva do amor de Deus pela humanidade, tendo ele mesmo encarnado, assumido forma e condição humanas e abraçado a vida na terra com tudo o que isso implica. Contudo, eu me envergonho do que fizeram com o Cristo ressurreto; tiraram dele a cruz e a coroa de espinhos, rejeitando todo o fracasso, dor e fragilidade por ele assumidos, e lhe deram uma coroa de rosas sem espinhos, celebrando uma vitória sem lutas, um sucesso sem falhas, e uma vida que tem ojeriza ao sofrimento . Esqueceram o sentido do que ele mesmo disse a Nicodemos em João 3: Quem nasce uma vez, morre duas, quem nasce duas, morre uma (releitura usada pela Aliança Bíblica do Brasil há certo tempo). Para não se envergonhar de e nem envergonhar a Jesus é preciso nascer de novo.
Não tenho vergonha de Jesus, sobretudo, porque Ele escolheu dar o primeiro passo, me amando primeiro, não se envergonhando de mim. Mas como ele mesmo disse, se a gente se envergonhar dele ele também se envergonhará da gente diante do Pai; mas se o confessarmos diante dos homens, Ele também nos confessará perante seu Pai. Me envergonho, porém, da disfarçatez de um Pedro, que garatiu que o seguiria até o fim, mas no raiar do sol do medo, perigo e ultraje, negou-o não apenas uma, mas três vezes. Ruborizo diante da religiosa hipocrisia de quem grita, chora, se derrama com o nome de Jesus nos lábios em momentos de êxtase, mas que, no calor dos acontecimentos que requerem de nós posição, decisão e coragem, preferem o escombro sórdido do silêncio, da omissão e da covardia. Por isso tenho insistido que precisamos urgentemente de uma teologia do saco roxo, que não se omita nem se envergonhe diante de sua inglória tarefa profética, e cuja preocupação principal não seja a de servir primáriamente a nenhum outro ser, senão a Deus. E suponho que Deus não se agrada de teólogo covarde e meia-boca, dividido entre a busca pela integridade e o desejo por adulação e popularidade.
Enfim (mas não finalmente), não me envergonho de Jesus, porque o Jesus a quem sirvo e por quem vivo não dá a mínima para o negócio da religião, ou para os louros da fama e da boa reputação. Ele não trocaria jamais a graça de ser chamado de “meu filho amado em quem tenho prazer” pela honra de ser profeta ou apóstolo das multidões. Ele não rechaçou as multidões, teve compaixão delas; mas rechaçou o cheiro de glória falsa que emana de sua empolgada aclamação e de seus elogios. Pois, profeta que é profeta, não pode se balizar pela boa, nem pela má fama, tampouco pode viver de amor ao próprio pescoço... Quem, hoje, tem abraçado e abraçará o fardo desta vocação?
Jonathan
4 comentários:
Oi professor, adorei esse post, posso postar no meu blog?
Oi professor, adorei esse post, posso postar no meu blog?
Claro Fernanda,
fique à vontade. Um grande abraço!
Belo texto...
Um alerta contra o "ser legal" com todo mundo às custas do nome de Jesus.
Até porque ELE disse uma coisinha simples: quem se envergonhar de mim e das minhas palavras, EU também me envergonharei dele no final de tudo... tá mais do lógico... o carinha passa o tempo todo falando do cristianismo sem Cristo e depois vai querer o quê?
É isso ai...
AC
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