terça-feira, 2 de março de 2010

Aprendendo a lidar com as incertezas...

"As certezas andam sempre de mãos dadas com as fogueiras" (Rubem Alves).
Você já ouviu aquele ditado (acho que é um ditado), que diz: “O maior erro é não reconhecer o erro”? Pois é, nossos pais, ou quem sabe nossos avós já tinham essa consciência. Há também outra palavra similar, agora vinda da Bíblia, acerca de nossa natureza humana: “Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós... Se afirmarmos que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (1 Jo 1.8,10).

Se aceitar o erro é sinal de sabedoria, e reconhecer o pecado princípio de redenção, porque temos tanta resistência em admitir tanto o erro como o pecado na vida?

Minha tese é a de que fomos criados dentro de certa ditadura da perfeição, que nos induz à ilusão de não errar, e a um conhecimento “cego” acerca da vida e de nós mesmos. Que tipo de conhecimento pode ser considerado “cego” e que tipo de “perfeição”, ditatorial?

Conhecimento cego é aquele que pretende ser espelho das coisas ou do mundo externo; subestima o problema do erro, visto que, segundo Edgar Morin, “todo conhecimento comporta o risco do erro e da ilusão” (2000, p. 19).

Perfeição ditatorial é um pré-requisito ou exigência da forma cega de conhecimento; porém, ainda que visemos à perfeição (completude), nossos meios são imperfeitos e incompletos. Em nossa maneira de ser e conhecer, desde cedo, fomos “doutrinados”. O problema é que doutrinas, em geral, pertencem à ditadura da perfeição, não admitem erros, pois admiti-los representaria a sua ruína.

Admitindo que outra forma de conhecimento seja possível e necessária, considerando os processos de criação e recriação pelos quais passa um mundo mutante, Morin, em seu livro "Os sete saberes necessários à educação do futuro" (2000), defende que a educação do futuro (no sentido de que algumas de suas proposições ainda estão distantes da realidade presente) precisa identificar e reconhecer erros, ilusões e incertezas do conhecimento que produz e ensina.

Será possível à educação teológica hoje desenvolver um tipo de racionalidade e, como consequência ou fruto, de prática que ensine e aprenda a lidar com as incertezas do conhecimento e da vida?

Jonathan

4 comentários:

Anônimo disse...

Tenho outra teoria em lugar da sua sobre a ditadura da perfeição, um pouco mais simples, mas talvez mais fadada ao erro.
Não encaramos nossos pecados, nossos próprios erros, não porque somos doutrinados a uma perfeição inatingível, mas porque a partir do momento que admitimos os nossos erros somos "obrigados" a tomar atitudes, ou seja, admitindo que somos pecadores, e confessando nossos pecados, temos também de fazer votos que aquilo não volte a se repetir, ou ao menos, nos casos de maiores dificuldade, precisamos ter a plena intenção de não voltar a cometer tais erros (pecados) afinal, que tipo de arrependimento seria esse que te leva a cair constantemente, sem nenhuma prudência?
Em resumo minha tese é de que não enxergamos, ou não admitimos nossas falhas, não pela nossa doutrinação, mas por uma preguiça coletiva, em tomar atitudes, em sair da teoria para ação. (e escrevo isso mais para mim do que para qualquer outra pessoa)
Admitir implica em agir, agir exige uma disposição em pensar, ponderar, enfim, encontrar uma solução, uma forma de mudar, e é claro que não estou falando de narizes tortos e plásticas, mas de falhas de caráter, de moral aquilo que nos deixa mais próximos, e mais distantes do Amor verdadeiro.
Mais do que a ilusão de não errar, temos medo de acertar, medo de confessar, e depois tornar a pecar, não temos confiança plena, e isso suscita os anseios as dúvidas, que controladas, dentro de um limite não digo racional, mas natural, talvez sejam até benéficas.
Ensinar alguém a lidar com isso, não sei se é algo possível ao homem. Afinal a fé é uma dádiva, mas podemos rezar por isso, para que no futuro, as pessoas tenham fé em Deus, fé na vida, e fé em si mesmas. Afinal a contemporaneidade sofre com a falta de fé, com o estar entre o céu e a frigideira, incapacitados de enxergar o caminho. O homem pós moderno, tem tudo exceto a fé, aquela que move montanhas e conquista mundos, a que cria, a que transgride, a que eterniza.

obs: obrigada pela resposta.

Jonathan Menezes disse...

Sua teoria não precisa ser "em lugar da minha", quem sabe pode ser tão válida e ao mesmo tempo lacunar ("fadada ao erro") quanto...

A sensação que tenho com seu comentário é que não estamos falando exatamete sobre a mesma coisa. Sua preocupação tem implicações mais amplas que essa breve reflexão se propôs a expor. Quem sabe numa próxima, quem sabe...

Jonathan

Anônimo disse...

é relendo seu texto e meu comentário vejo que talvez tenha tido uma resposta muito interna realmente...
deixe-me tentar novamente, sobre o que é o contexto geral do seu texto?

Jonathan Menezes disse...

Priscila
Escrevi outro post para estender essa discussão. Leia lá...
Abs
Jonathan